Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 00, e023003, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.31068/tp.v32i00.1060 1
POR UMA PERSPECTIVA SUL-SUL PARA A CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL:
ENTREVISTA COM LUCIANA BALLESTRIN
POR UNA PERSPECTIVA SUR-SUR PARA LA CIENCIA POLÍTICA EN BRASIL:
ENTREVISTA CON LUCIANA BALLESTRIN
TOWARDS A SOUTH-SOUTH PERSPECTIVE FOR POLITICAL SCIENCE IN
BRAZIL: AN INTERVIEW WITH LUCIANA BALLESTRIN
Lucy OLIVEIRA
1
e-mail: gosilva@ufscar.br
Cristiano RODRIGUES
2
e-mail: cristianor@gmail.com
Como referenciar este artigo:
OLIVEIRA, L.; RODRIGUES, C. Por uma perspectiva Sul-Sul
para a Ciência Política no Brasil: Entrevista com Luciana
Ballestrin. Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São
Carlos, v. 32, n. 00, e023003, 2023. e-ISSN: 2236-0107. DOI:
https://doi.org/10.31068/tp.v32i00.1060
| Submetido em: 13/01/2023
| Revisões requeridas em: 24/04/2023
| Aprovado em: 22/06/2023
| Publicado em: 14/07/2023
Editora:
Profa. Dra. Simone Diniz
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos – SP – Brasil. Professora Adjunta de Ciência Política
no Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Doutorado em Ciência
Política (UFSCar).
2
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte – MG – Brasil. Professor Adjunto do
Departamento de Ciência Política e Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política.
Doutorado em Sociologia (UERJ).
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Por uma perspectiva Sul-Sul para a Ciência Política no Brasil: Entrevista com Luciana Ballestrin
A crítica às relações sociais e políticas, bem como ao pensamento científico, dentro do
contexto colonial, subalterno e do sul global, é uma contribuição importante das perspectivas
conhecidas como pós-colonialidade e decolonialidade.
Embora essas perspectivas pareçam bem estabelecidas nas humanidades, sua adoção
varia nas Ciências Sociais no Brasil e está sendo incorporada à Ciência Política a partir
de debates emergentes na área nos últimos anos.
Para discutir esse campo de reflexão epistemológica e como ele se aplica, se
desenvolve e questiona a Ciência Política brasileira. Entrevistamos a professora Dra. Luciana
Ballestrin, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Luciana é professora associada de
Ciência Política no curso de Relações Internacionais e no Programa de Pós-Graduação em
Ciência Política (PPGCPol) do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política (IFISP) da
UFPel, onde também é coordenadora do programa. Ela fez parte da diretoria nacional da
Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) de 2018 a 2020, coordena o Grupo de
Trabalho “Democracias em declínio: desafios teóricos, políticos e analíticos” na Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e a Área
Temática de Teoria Política na ABCP. Luciana Ballestrin tem contribuído de forma
significativa para o campo ainda emergente dos estudos decoloniais na interface
entre Ciência Política e Relações Internacionais, assim como para análises sobre o
funcionamento das democracias, tanto em âmbito nacional quanto internacional. Dentre
seus trabalhos recentes, destacam-se dois artigos publicados em 2022: Postcolonial
and decolonial subaltern feminisms”, publicado no periódico Postcolonial
Studies, e The uncertain future of Brazilian democracy”, publicado no periódico
Brazilian Research and Studies Journal.
Confira agora o resultado dessa conversa instigante sobre os caminhos e horizontes da
Ciência Política no Brasil.
Os termos pós-colonialidade e decolonialidade são usados, às vezes, de forma
intercambiável. Eles são sinônimos? Podemos usá-los atualmente nessa condição?
Considero que não são sinônimos, pois refletem dois conjuntos de discussões distintos,
embora inter-relacionados. Essa percepção é fundamentada nos contextos de surgimento
dessas perspectivas e nos aspectos institucionais e acadêmicos envolvidos no debate.
O pós-colonialismo, de forma geral, é um campo de estudos e uma área que emerge ou é
nomeada primeiro. Ele tem sido desenvolvido como uma disciplina principalmente nas
décadas de 1980 em renomadas universidades nos Estados Unidos e na Inglaterra, momento
em que o termo se
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Lucy OLIVEIRA e Cristiano RODRIGUES
popularizou. Esse surgimento ocorreu em um contexto de crescente globalização,
multiculturalismo e neoliberalismo, enquanto o pós-estruturalismo pautava novas agendas
intelectuais. Portanto, o pós-colonialismo foi amplamente influenciado por um substrato
filosófico pós-estrutural e pós-fundacional. Nessa perspectiva, busca-se reintroduzir a crítica
anticolonial por meio de uma abordagem pós-estruturalista. Não é surpreendente que os centros
e departamentos universitários que acolheram essa perspectiva estejam associados aos estudos
culturais, literários e crítica literária. Dessa forma, o pós-colonialismo lida principalmente com
a questão das representações identitárias em termos linguísticos, culturais, artísticos e
psicanalíticos, adotando uma perspectiva dos sujeitos e grupos subalternizados ou
marginalizados pelo processo colonial e imperial.
No entanto, essa abordagem privilegiada das representações culturais e discursivas
recebeu críticas contundentes, inicialmente de perspectivas mais relacionadas ao marxismo,
mas também de outras correntes teóricas. Algumas dessas críticas apontaram que o termo pós-
colonialismo” carregava ambiguidades e imprecisões em relação ao prefixo “pós”. Isso ocorre
porque, ao contrário do pós-estruturalismo, o termo “pós-colonialismo” poderia sugerir o fim
do colonialismo, o que é exatamente o oposto do objetivo dos estudos pós-coloniais. Além
disso, a perspectiva pós-colonial foi acusada de apresentar um certo culturalismo exacerbado,
conforme expresso por Aijaz Ahmad (2002), e de “ahistoricismo”.
Outra crítica surge no início dos anos 1990 em artigos pioneiros nesse debate acadêmico,
que fazem uma leitura crítica do próprio pós-colonialismo, trazendo para o centro do debate o
contexto latino-americano. Essa abordagem adota uma perspectiva contracolonial, buscando
reinterpretar, recuperar e revisar o próprio pós-colonialismo como uma área acadêmica
institucionalizada. É a partir dessa discussão crítica que surge o conceito de decolonialidade,
como um desdobramento dessa intervenção latino-americana no debate global do pós-
colonialismo.
O que essa crítica ressalta e reivindica, então, é a existência de uma diferença imperial
(não apenas colonial) entre os processos de colonização vivenciados pela América Latina,
incluindo o Brasil, e aqueles aos quais muitos migrantes diaspóricos se referem quando
discutem o tema do pós-colonialismo em universidades de países "desenvolvidos".
Autores pós-coloniais estão se referindo a um processo relacionado ao imperialismo do
século XIX, no contexto pré-Primeira Guerra Mundial, enquanto na América Latina
estamos lidando com a primeira experiência colonial em relação à Europa. O colonialismo
vivido pela América Latina
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Por uma perspectiva Sul-Sul para a Ciência Política no Brasil:Entrevista com Luciana Ballestrin
e pelo Brasil, em particular, foi historicamente diferente e anterior ao processo colonial
e imperial em outras regiões do mundo.
Essa perspectiva reivindica também a relevância de expoentes do pensamento político
latino-americano, como ativistas, escritores, intelectuais e pesquisadores, que desenvolveram
uma reflexão crítica sobre a região. É interessante observar que o sociólogo peruano Aníbal
Quijano introduziu a noção de “colonialidade do poder” em seu artigo intitulado
Colonialidad y modernidad/racionalidad”, publicado em 1992. No entanto, foi somente após
o “giro decolonial” que o conceito ganhou maior circulação e repercussão significativa.
Quando observamos o número de citações dos trabalhos de Aníbal Quijano e Walter
Mignolo em mecanismos de pesquisa como o Google Scholar, podemos perceber o crescimento
e a disseminação desses conceitos. É importante destacar que a década de 1990 foi um período
de recepção dos estudos pós-coloniais na América Latina. Vale ressaltar também que o próprio
giro decolonial teve início nos Estados Unidos, com a dissolução do Grupo de Estudos
Subalternos Latino-Americanos, inspirado no grupo indiano dos Subaltern Studies. Isso
também requer uma espécie de tradução dos sujeitos subalternos em relação ao contexto indiano
e à criação dos Subaltern Studies. Posteriormente, a partir da dissolução desse grupo, o giro
decolonial avançou com um grupo de pesquisadores que trouxe a decolonialidade como
resposta, atualização, resistência e enfrentamento à lógica da colonialidade.
Em resumo, é verdade que, em certa medida, esses termos podem ser considerados
intercambiáveis, pois ambos representam uma crítica ao colonialismo. No entanto, essa crítica
assume diferentes formas em relação à América Latina. Não devemos esquecer jamais a
tradição de reflexão e crítica ao colonialismo que remonta ao século XIX, mesmo que não seja
necessariamente rotulada como pós-colonial, anticolonial ou decolonial. Devemos ter cuidado
ao fazer rótulos ou enquadrar essas perspectivas sem considerar o que já foi produzido
anteriormente, mesmo que não tenha recebido necessariamente esses nomes.
Lucy OLIVEIRA e Cristiano RODRIGUES
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Podemos dizer que as Ciências Sociais brasileiras incorporaram essa reflexão de maneira
semelhante? Como você esse debate da decolonilalidade dentro da Ciência Política
Brasileira?
É relevante salientar que o debate em torno das perspectivas pós-colonial e decolonial
chegou tardiamente às Ciências Sociais brasileiras. A meu ver, isso se deve, em parte, à
dinâmica de dependência acadêmica e à geopolítica do conhecimento, uma vez que tais críticas
foram sempre mediadas ou autorizadas pelo Norte global. Embora existam estudos decoloniais
com pensadores da região desde os anos 1960 e 1970, dentro das discussões sobre dependência,
libertação e com referências a Dussel, Quijano e a um registro mais marxista da época, essa
perspectiva ganhou visibilidade a partir de alguns encontros realizados no Norte global. O
argentino Walter Mignolo, um dos expoentes da perspectiva decolonial, por exemplo, fez toda
a sua carreira nos Estados Unidos e projeta seu pensamento dentro desse campo desde a Duke
University. Embora exista debate com diferentes expoentes latino-americanos, as condições
materiais de produção do conhecimento se deram no Norte global. Inclusive, quando
perguntaram a Arif Dirlik, no início dos anos 90, quando o pós-colonialismo começou, ele
respondeu ironicamente: “quando intelectuais do terceiro mundo chegaram às universidades do
primeiro mundo”. Assim, a crítica pós-colonial e decolonial enfrentam um paradoxo de origem
e é necessário lidar com essa contradição de forma recorrente.
Por outro lado, embora o debate em torno das perspectivas pós-colonial e decolonial
tenha chegado tardiamente às Ciências Sociais brasileiras, como mencionei anteriormente, os
temas centrais dessas perspectivas eram abordados por algumas disciplinas e áreas, mesmo
sem a reivindicação do termo. A Antropologia, por exemplo, trata de questões relacionadas ao
pós-colonialismo e à crítica decolonial quando aborda diferentes grupos, identidades pós-
coloniais/colonizadas e a marginalização dessas populações. A Sociologia se engajou bastante
nesse debate nas últimas duas décadas, atualizando a agenda da “sociologia terceiro-mundista
e dos debates sobre autonomia teórica e intelectual suscitados por ela, através das teorias e
epistemologias do sul. Esses debates eram frequentes nas cadas de 1950 e 1960, quando se
discutia muito sobre questões de autonomia, dependência e teorização. O pensamento social
brasileiro traz contribuições importantes para se pensar essas questões, sem necessariamente
enquadrá-las no rótulo “decolonial”. Desde o final dos anos 2000, pesquisadores da Sociologia
e Antropologia dialogam com essa agenda crítica da construção do conhecimento em Ciências
Sociais, como pode ser observado nos trabalhos de Paulo Henrique Martins, Marcelo Rosa,
João Marcelo Maia, Adélia Miglievich, Eloísa Martín e Cláudio Costa Pinheiro.
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Por uma perspectiva Sul-Sul para a Ciência Política no Brasil:Entrevista com Luciana Ballestrin
A Ciência Política, por sua vez, é a disciplina que chega mais tardiamente nesse debate,
especialmente se comparada à área de Relações Internacionais (RI). No caso de RI, é importante
destacar a influência internacional da Inglaterra e dos Estados Unidos. Novamente, parece que
os centros do Norte global precisam autorizar ou mediar a entrada desses estudos nos contextos
mais afetados pela desigualdade e dependência acadêmicas. Como resultado, RI é uma
área/disciplina que possui mais discussões pós-coloniais e decoloniais do que a Ciência Política.
Mesmo o boom de estudos sobre “constitucionalismo latino-americano” ocorreu por meio do
Direito. Isso pode ser observado nos grupos, congressos e seminários sobre o tema. A Ciência
Política, por sua vez, chega mais tardiamente nesse debate devido aos seus objetos de estudo,
mas também pela própria concepção da política disciplinada e encerrada no registro
institucional e, de certa maneira, presentista. Isso tem bastante a ver com a formação do campo
no Brasil.
Diante disso, quais são os desafios para uma Ciência Política a partir do Sul?
É importante considerar o termo “decolonial” não como um adjetivo ou uma escola
própria, e não entendê-lo no singular, pois existem várias derivações e significados em disputa
sobre o que é a descolonização atualmente. Não há um único sentido ou leitura para isso, e isso
dependerá do que entendemos por “decolonial” em diferentes sentidos e direções.
Outro ponto fundamental é ser crítico em relação à maneira totalizante como a crítica
decolonial tem circulado, gerando uma hipertrofia conceitual. É necessário ter cuidado para não
gerar uma perspectiva de totalidade colonial que pode ser complicada, onde tudo é colonizado
e tudo é colonial. Isso não ajuda a entender as especificidades do poder colonial e suas
reminiscências. Nem todas as relações de poder, dominação e opressão são oriundas do
colonialismo, mas o colonialismo implica em relações de dominação, opressão, violência e
poder. É preciso saber onde a política é atravessada pelo colonialismo.
Concordo que há um certo abuso do uso dessa linguagem, onde o que não se enquadrar
em uma Ciência Política decolonial seria, por conseguinte, uma Ciência Política do colonizador.
É importante reconhecer que existem agendas e perspectivas teóricas importadas que não
consideram as nossas especificidades. Ao mesmo tempo, somos uma comunidade que busca se
construir institucionalmente a partir dessa condição (semi)periférica. Embora a nossa Ciência
Política seja muito influenciada pelos Estados Unidos, onde a Ciência Política está se
abrindo para determinadas perspectivas, a nossa nem sempre incorpora da mesma maneira.
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Lucy OLIVEIRA e Cristiano RODRIGUES
Parece que nos abrimos com uma mediação, com uma permissão ou com uma
influência de outros contextos que se tornam mais porosos. É significativo que Gayatri
C. Spivak tenha sido a principal conferencista do Congresso Mundial da International
Political Science Association (IPSA) em 2021.
Podemos pensar na constituição da Ciência Política a partir do Sul, considerando a
decomposição de suas subdisciplinas e áreas. Algumas são mais frutíferas para pensar em
interlocuções, colaboração e proximidade com a América Latina, Caribe e América Central, o
que é fundamental e interessante para ampliar esse diálogo. A ALACIP (Associação Latino-
Americana de Ciência Política) é um lugar onde esse encontro tem ocorrido. As associações
possuem um papel importante de promover essa aproximação e possibilitar rompimentos.
Não somos capazes de nadar contra a correnteza sozinhos. É importante perceber que
existem muitos espaços que precisam ser construídos para trabalhar determinadas questões. Os
diálogos sul-sul ainda não estão prontos e, em alguns casos, ainda não estão sequer colocados.
Ainda falta muito para se constituir.
O debate de gênero é muito marcado pelas reflexões em torno da subalternidade e
decolonialidade. Como essas críticas podem auxiliar na problematização da Ciência
Política em geral na direção de uma epistemologia do Sul? É possível pensar nas
contradições da perspectiva das ciências sociais e do fazer científico para América Latina?
O feminismo não ficou imune à influência do pós-colonialismo e da perspectiva
decolonial. De fato, existe um campo inteiro conhecido como feminismo pós-colonial e
feminismo decolonial. O primeiro debate em nível global, no sentido sul-norte ou vice-versa, é
a descolonização do feminismo, especialmente em relação à representação, às identidades e às
relações de poder dentro dos movimentos feministas. Inclusive, houve um momento em que
Nancy Fraser foi questionada nesse sentido e reconheceu que essas são discussões muito
internas ao feminismo. No entanto, esse debate interno transcendeu as fronteiras do próprio
movimento, chegando à decolonialidade do gênero e à relação com o Estado.
É interessante notar que, do ponto de vista político e social, o feminismo latino-
americano tem sua própria agenda, incluindo críticas ao neoliberalismo e questões relacionadas
à pobreza e privações materiais desde os anos 1970. A história do feminismo latino-americano
é rica e o feminismo decolonial, que se desenvolveu especialmente após 2005, trouxe algumas
especificidades. Na prática política, ele também construiu diferentes repertórios, movendo um
campo que está longe de ser harmônico, mas que cresce e possui importantes pensadoras de
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Por uma perspectiva Sul-Sul para a Ciência Política no Brasil:Entrevista com Luciana Ballestrin
referência com trajetórias consolidadas, como Rita Laura Segato e María Lugones. Esse
acúmulo de reflexões, debates, ação política e experiência prática do feminismo pode ser uma
referência para pensar uma ciência política ao Sul.
Outra questão que queríamos tratar é o que podemos chamar de “divórcio entre a empiria
e a teoria” que temos observado na Ciência Política e acaba levando as pesquisas para
uma perspectiva bastante instrumentalista. É como se a Ciência Política se reduzisse aos
métodos e à empregabilidade, e a teoria vai sendo descartada como elemento, assim como,
as metodologias de ordem qualitativa, mais interpretativistas, quando não são subsumidas
no modelo positivista de ciência. O que você pensa sobre esse divórcio e sobre o que a
Ciência Política brasileira tem produzido em relação a isso. Diante disso, como pensar o
presente e o futuro da nossa disciplina?
Essa é uma excelente questão, pois envolve o processo de neoliberalização da Ciência.
O pensamento científico tem sido influenciado pela racionalidade neoliberal em vários
aspectos, incluindo o produtivismo irrefletido e descompromissado socialmente, bem como o
desprestígio daquilo que o é operacional ou utilitário. Embora a preocupação com
metodologias possa ser válida, considerando que elas podem ser diversas e reforçar a
importância social da ciência, a disciplina é orientada pela importância das métricas,
mensuração, explicações causais e impactos. Essa tendência, combinada com a
neoliberalização, transforma a teoria política quase em uma dissidência automática da ciência
política.
Nessa lógica, parece haver um rebaixamento dos estudos mais teóricos, que podem
envolver erudição e um mergulho mais profundo nas estruturas sociais, políticas e linguísticas.
O tempo exigido para a produção teórica o acompanha a rapidez da produção científica
acadêmica atual, marginalizando e desprestigiando a teoria como um lugar para pessoas não
orientadas metodologicamente.
Isso é grave, especialmente considerando a crise democrática que enfrentamos em todo
o mundo nos últimos anos. Ela vem acompanhada de uma crise da teoria, perseguida por não
trazer retorno imediato ou ser aplicável e pelo lugar crítico que ocupa no pensamento das
ciências humanas.
Essa é uma crítica intrínseca ao nosso campo e direcionada à necessidade de reflexão
teórica que tem sido comprometida. Debates sobre questões que nos cercam como seres
humanos, nossas condições de existência e desigualdades, são deixados de lado. Isso pode ser
sentido ao lecionar disciplinas de teoria, como em um curso de Relações Internacionais.
Dependendo da abordagem, a teoria política pode gerar desinteresse nos estudantes.
Lucy OLIVEIRA e Cristiano RODRIGUES
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Recentemente, tive uma experiência positiva com uma disciplina de teoria política
contemporânea, onde a turma foi engajada e participativa e pude trazer perspectivas feministas
e pós-coloniais. No final, os alunos conseguiram relacionar a teoria com a realidade e se
enxergar nas discussões sobre identidade, representação e sexualidade. No entanto, a leitura de
alguns temas e autores pode ser desafiadora e o aprendizado teórico exige leitura permanente.
O processo de democratização da universidade trouxe agendas de pesquisa a que são
muito atípicas da Ciência Política, alguns temas que foram historicamente subteorizados,
como gênero, raça, etnicidade, política voltadas à população LGBTQIA+, entre outros.
Como esse interesse renovado nesses temas podem coexistir ou colaborar com aquilo que
nós consideramos mainstream na Ciência Política?
A democratização da universidade pública, a ampliação de cursos e programas, a
renovação do corpo docente e discente, bem como seu recrutamento, contribuíram para renovar
as agendas e a própria universidade. Isso ocorreu porque a universidade foi questionada sobre
seu elitismo interno e começou a ter contato com diferentes realidades sociais e culturais
brasileiras, incluindo uma parcela significativa que ficou fora da universidade pública por
muitos anos. Essa ampliação e democratização foi produto de um governo que dialogou com
diferentes grupos, soube receber pressões e reconheceu mobilizações sociais de diversas
origens. Além disso, na primeira década dos anos 2000, houve um ciclo progressista na América
do Sul como um todo, que, apesar de seus limites e problemas, foi importante para essa
transformação.
A crise democrática que estamos enfrentando é uma reação ao ciclo de inclusão de novos
atores e ao avanço de agendas mais igualitárias. O século XXI tem sido marcado por momentos
dramáticos de ruptura democrática com a eleição de líderes autoritários. No entanto,
anteriormente houve momentos de extensão e ativação popular, com o crescimento de
determinadas agendas, tanto nacional quanto internacionalmente. Essas agendas tornaram-se
mais sensíveis às questões de desigualdades raciais, de gênero, da população LGBTQIA+ e
indígena. Isso ocorreu fora do contexto marxista ou da esquerda relacionada ao mundo do
trabalho e da classe, que dominou grande parte do século XX. Essa é uma das questões que tem
sido debatida no campo das esquerdas em geral, em torno da identity politics.
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Por uma perspectiva Sul-Sul para a Ciência Política no Brasil:Entrevista com Luciana Ballestrin
O que você considera que são, então, esses temas emergentes da Ciência Política latino-
americana? Como eles têm impulsionado o nosso campo?
A magnitude das múltiplas crises é crucial para considerar as transformações e os temas
emergentes. Refiro-me à crise democrática política dos últimos anos, bem como à crise
ambiental, que está em andamento muito tempo. Temos a crise epistêmica e a crise
pandêmica. Obviamente, esse contexto de múltiplas crises afetou várias áreas, mas nossa
disciplina foi diretamente impactada por elas. Mesmo aqueles que estudavam políticas públicas
e burocracia estatal, não puderam evitar trabalhar com o estrago que o governo Bolsonaro
causou nas partes importantes do Estado brasileiro e assim por diante. Nas relações
internacionais também, inclusive agora com a questão da invasão russa na Ucrânia. Este é um
evento de grande magnitude que afeta profundamente a Europa e terá consequências para nós
aqui, em um efeito cascata, como a crise de abastecimento que se gerará. Enfim, são vários
temas que avançam sobre a Ciência Política brasileira e latino-americana e suas áreas
estabelecidas.
Pensando em seus dois fortes paradigmas explicativos - o institucionalismo e a cultura
política - vemos o tema da qualidade da democracia que, em uma perspectiva mais
contemporânea, traz a dimensão do gênero e das respostas do Estado. Se pensarmos, o cientista
político argentino Guillermo O’Donnell tinha preocupação com as desigualdades em sua teoria
política. No final de sua trajetória, ele também se concentrou na qualidade da democracia.
A teoria política é outra área particularmente estratégica para as questões que estamos
discutindo, por ser historicamente uma área mais indisciplinada. Isso ocorre porque ela se
relaciona com a filosofia política, a psicanálise e a psicologia. A teoria política é uma área muito
democrática e, eu diria, o campo mais aberto para trabalhar com novas questões. Na Revista
Sul-Americana de Ciência Política, por exemplo, tentamos dar um pouco mais de ênfase à teoria
nos últimos anos, mas isso foi um pouco difícil de concretizar. Isso ocorre porque o próprio
Brasil tem seus centros de produção de excelência, e a pressão para produzir em e para algumas
revistas qualificadas “A1” e “A2” faz com que esse tipo de iniciativa perca potenciais
contribuidores e interlocutores.
Lucy OLIVEIRA e Cristiano RODRIGUES
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O debate sobre desigualdade de gênero e raça, por exemplo, não ficaram apenas restritos
aos nossos objetivos. Eles têm ocupado um lugar importante na discussão sobre o próprio
campo, com debates sobre as disparidades de posição entre mulheres e homens na Ciência
Política brasileira, o impacto da maternidade na carreira, a concentração de bolsas entre
pesquisadores homens e a concentração de atividades de gestão da universidade na mão
de mulheres, entre outros. Como você enxerga isso?
Considero que o tema da participação das mulheres na Ciência Política e as disparidades
de gênero seja de extrema importância. Nos últimos anos, esse assunto tem ganhado relevância
e visibilidade, sendo abordado tanto em pesquisas quanto em representações da área. Recordo-
me do projeto e livro promovidos pela Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP)
durante a gestão presidida por Flávia Biroli (2018–2020), que explorou a presença das mulheres
nesse campo e incluiu entrevistas com cientistas políticas influentes de todo o Brasil. Minha
preocupação sempre foi promover uma abertura para um campo mais equitativo e buscar
avanços, assim como testemunhado por algumas associações internacionais. Além disso, esse
tipo de reflexão - que possui natureza política e discute a necessidade de maior
representatividade e participação de diferentes grupos e perspectivas - reflete os movimentos
sociais e grupos representativos, e também adentrou no âmbito científico. A Ciência Política é
tradicionalmente uma disciplina com uma predominância masculina, assim como as Relações
Internacionais. É importante ressaltar que, quando grupos minoritários de gênero começam a
participar, as questões de desigualdade de posições e acesso são levantadas para evidenciar a
disparidade existente. A ideia é ocupar os espaços para que, em algum momento, esse debate
não seja mais necessário.
A busca por uma maior igualdade e representação é fundamental para os diversos
feminismos, grupos de mulheres e movimentos feministas. A maternidade nas redes de
mulheres cientistas é uma questão de suma importância, pois está relacionada ao cruzamento
entre o trabalho produtivo, reprodutivo e sua visibilidade na esfera pública. Em outras palavras,
a dimensão do trabalho doméstico em si e a divisão sexual do trabalho são aspectos presentes
quando se trata de trabalho intelectual e acadêmico.
Vejo com otimismo esse movimento na área e acredito que estamos progredindo e
avançando nessa preocupação. Isso não se aplica apenas de forma geral, mas também em
relação à ocupação equitativa das áreas temáticas, buscando mais simetria em termos de gênero
e região. Não podemos esquecer da necessidade dos debates raciais também.
É importante ressaltar o contexto de uma grande crise. Isso é paradoxal. Por um lado,
observamos alguns avanços que indicam que as instituições estão amadurecendo, absorvendo
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Por uma perspectiva Sul-Sul para a Ciência Política no Brasil:Entrevista com Luciana Ballestrin
e buscando algum tempo esse desenvolvimento positivo em meio a um cenário que,
paradoxalmente, apresenta vários retrocessos democráticos. Passamos e ainda sofremos os
efeitos de um momento político extremamente hostil para pesquisadores experientes e jovens
cientistas. Essa nova geração, recentemente doutorada, concluiu ou está concluindo suas teses
em um cenário ainda negativo, com desestímulo significativo para a continuidade da pesquisa.
Talvez agora possamos retomar e reconstruir um pouco do que foi destruído.
Essa crise nos desafia a repensar objetos, métodos e nossa própria profissão e área. É
um grande desafio, mas se estivermos atentos, acredito que conseguiremos encontrar caminhos
para horizontes promissores.
Para quem quiser saber mais sobre decolonialidade, pós-colonialidade, horizontes e temas
emergentes em Ciência Política, quais seriam suas sugestões? Por onde começar?
É interessante notar que a pergunta que vocês me fazem agora foi uma pergunta que eu
mesmo me fiz há dez anos. É importante relatar que na área de Ciência Política ainda temos um
número limitado de trabalhos sobre esse tema. Encontramos mais traços dessa discussão em
temas correlatos, como o debate sobre raça e política, gênero e política, mas ainda estamos no
início. Portanto, precisamos explorar áreas de intersecção e interdisciplinaridade para
encontrarmos bases mais sólidas. É necessário indicar pontos de conexão para esse debate, seja
com a Sociologia, Antropologia, Relações Internacionais ou Direito. Devemos realizar mais
trabalhos e dossiês com essas temáticas e abrir espaços para discussão.
Em 2013, lembro que estabelecemos uma rede chamada Colonialidades e Política
Internacional”, como resultado de um seminário promovido pelo Instituto de Relações
Internacionais da PUC-Rio naquele ano. Algumas discussões desse evento foram publicadas no
livro “Perspectivas pós-coloniais e decoloniais em Relações Internacionais”, lançado em 2021
pela EDUFBA e disponível gratuitamente online. Além disso, a mesma editora em breve
publicará um livro sobre teoria social e pós-colonialismo, que surgiu de um curso ministrado
sobre o tema durante a pandemia. Nos últimos anos, o interesse por esses assuntos tem crescido
consideravelmente, e isso, em minha opinião, requer uma explicação. Atualmente, uma rápida
busca no Diretório de Grupos do CNPq revela várias iniciativas, de diferentes áreas e
disciplinas, orientadas pelas críticas pós-coloniais e decoloniais em todo o país.
Lucy OLIVEIRA e Cristiano RODRIGUES
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 00, e023003, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.31068/tp.v32i00.1060 13
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Por
uma perspectiva Sul-Sul para a Ciência Política no Brasil:Entrevista com Luciana Ballestrin
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Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 00, e023003, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.31068/tp.v32i00.1060 1
TOWARDS A SOUTH-SOUTH PERSPECTIVE FOR POLITICAL SCIENCE
IN BRAZIL: AN INTERVIEW WITH LUCIANA BALLESTRIN
POR UMA PERSPECTIVA SUL-SUL PARA A CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL:
ENTREVISTA COM LUCIANA BALLESTRIN
POR UNA PERSPECTIVA SUR-SUR PARA LA CIENCIA POLÍTICA EN
BRASIL: ENTREVISTA CON LUCIANA BALLESTRIN
Lucy OLIVEIRA
1
e-mail: gosilva@ufscar.br
Cristiano RODRIGUES
2
e-mail: cristianor@gmail.com
How to reference this paper:
OLIVEIRA, L.; RODRIGUES, C. Towards a South-South
perspective for Political Science in Brazil: An interview with
Luciana Ballestrin. Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência
Política, São Carlos, v. 32, n. 00, e023003, 2023. e-
ISSN: 2236-0107. DOI: https://
doi.org/10.31068/tp.v32i00.1060
| Submitted: 13/01/2023
| Revision required: 24/04/2023
| Approved: 22/06/2023
| Published: 14/07/2023
Editor:
Prof. Dr. Simone Diniz
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
The Federal University of São Carlos (UFSCar), São Carlos SP Brazil. Assistant professor of Political Science
in the Department of Social Sciences and the Graduate Program in Political Science. Doctoral degree in Political
Science (UFSCar).
2
Federal University of Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte – MG – Brazil. Assistant professor in the
Department of Political Science and Collaborating Professor in the Graduate Program in Political Science.
Doctoral degree in Sociology (UERJ).
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Towards a South-South perspective for Political Science in Brazil: An interview with Luciana Ballestrin
The critique of social and political relations and scientific thought within the context
of colonial, subaltern, and the Global South is an essential contribution from perspectives
known as post-coloniality and decoloniality.
While these perspectives may seem well-established in the humanities, their adoption
varies within the Social Sciences in Brazil and has been incorporated into Political Science
through emerging debates in recent years.
To discuss this field of epistemological reflection and how it applies, develops, and
questions Brazilian Political Science, we interviewed Dr. Luciana Ballestrin, a professor at the
Federal University of Pelotas (UFPel). Luciana is an associate professor of Political Science
in the International Relations program and the Graduate Program in Political Science
(PPGCPol) at the Institute of Philosophy, Sociology, and Politics (IFISP) at UFPel, where she
is also the program coordinator. She served on the national board of the Brazilian
Political Science Association (ABCP) from 2018 to 2020, coordinates the Working Group
"Democracies in Decline: Theoretical, Political, and Analytical Challenges" in the
National Association of Graduate Studies and Research in Social Sciences (ANPOCS),
and the Thematic Area of Political Theory in ABCP. Luciana Ballestrin has made
significant contributions to the still-emerging field of decolonial studies at the intersection
of Political Science and International Relations, as well as analyses of the functioning
of democracies, both nationally and internationally. Among her recent works, two
articles published in 2022 stand out: "Postcolonial and Decolonial Subaltern
Feminisms", published in Postcolonial Studies, and "The Uncertain Future of Brazilian
Democracy", published in the Brazilian Research and Studies Journal.
Now, let's explore the results of this thought-provoking conversation about the paths and
horizons of Political Science in Brazil.
The terms post-coloniality and decoloniality are sometimes used interchangeably. Are they
synonymous? Can we currently use them interchangeably?
They are not synonymous as they reflect two distinct yet interrelated sets of
discussions. This perception is grounded in the contexts of the emergence of these
perspectives and the institutional and academic aspects involved in the debate. Post-
colonialism, in general, is a field of study and an area that emerged or was named first. It was
developed as a discipline mainly in the 1980s in renowned universities in the United States
and England when the term gained popularity. This emergence occurred in the
context of increasing globalization,
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Lucy OLIVEIRA and Cristiano RODRIGUES
multiculturalism, and neoliberalism, while post-structuralism shaped new intellectual agendas.
Therefore, post-colonialism was heavily influenced by a post-structural and post-foundational
philosophical substrate. From this perspective, there is a focus on reintroducing anti-colonial
critique through a post-structuralist approach. Unsurprisingly, the academic centers and
departments that embraced this perspective are associated with cultural studies, literary studies,
and literary criticism. Thus, post-colonialism primarily deals with the issue of identity
representations in linguistic, cultural, artistic, and psychoanalytic terms, adopting a perspective
of subjects and groups that have been subalternized or marginalized by the colonial and imperial
processes.
This privileged approach to cultural and discursive representations has faced strong
criticisms, initially from perspectives more closely related to Marxism and other theoretical
currents. Some of these criticisms pointed out that "post-colonialism" carried ambiguities and
inaccuracies regarding the prefix "post". This is because, unlike post-structuralism, the term
"post-colonialism" could suggest the end of colonialism, which is precisely the opposite of the
objective of post-colonial studies. Furthermore, the post-colonial perspective has been accused
of presenting a certain exaggerated culturalism, as expressed by Aijaz Ahmad (2002), and of
being "ahistorical".
Another critique emerges in the early 1990s in pioneering articles in this academic
debate, which offer a critical reading of post-colonialism, bringing the Latin American context
to the forefront of the discussion. This approach adopts a counter-colonial perspective, seeking
to reinterpret, recover, and revise post-colonialism as an institutionalized academic field. From
this critical discussion, the decoloniality concept arises as an outgrowth of this Latin American
intervention in the global post-colonialism debate.
What this critique emphasizes and claims, then, is the existence of an imperial difference
(not just colonial) between the processes of colonization experienced by Latin America,
including Brazil, and those to which many diasporic migrants refer when discussing the topic
of post-colonialism in universities of "developed" countries. Postcolonial authors refer to a
process related to 19th-century imperialism in the pre-World War I context, while in Latin
America, we are dealing with the first colonial experience in Europe. The colonialism
experienced by Latin America and Brazil, in particular, was historically different and
preceded the colonial and imperial processes in other regions.
This perspective also claims the relevance of critical figures in Latin American political
thought, such as activists, writers, intellectuals, and researchers, who have already developed a
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Towards a South-South perspective for Political Science in Brazil: An interview with Luciana Ballestrin
crucial reflection on the region. Interestingly, Peruvian sociologist Aníbal Quijano introduced
the notion of "coloniality of power" in his article "Colonialidad y modernidad/racionalidad",
published in 1992. However, it was only after the "decolonial turn" that the concept gained
wider circulation and significant impact.
When we look at the number of citations of Aníbal Quijano and Walter Mignolo's works
in search engines like Google Scholar, we can perceive the growth and dissemination of these
concepts. It is essential to highlight that the 1990s was a period of reception of post-colonial
studies in Latin America. Notably, the decolonial turn originated in the United States, with the
dissolution of the Latin American Subaltern Studies Group, inspired by the Indian Subaltern
Studies group. This also requires a translation of subaltern subjects in relation to the Indian
context and the creation of Subaltern Studies. Subsequently, following the dissolution of this
group, the decolonial turn advanced with a group of researchers who brought decoloniality as
a response, update, resistance, and confrontation to the logic of coloniality.
In summary, these terms are interchangeable as they critique colonialism. However, this
critique takes different forms about Latin America. We must never forget the tradition of
reflection and criticism of colonialism that dates back to the 19th century, even if it is not
necessarily labeled as post-colonial, anti-colonial, or decolonial. We must be cautious in
labeling or framing these perspectives without considering what has been produced before, even
if it has not necessarily been given these names.
Can we say that Brazilian Social Sciences have similarly incorporated this reflection? How
do you see the debate on decoloniality within Brazilian Political Science?
Notably, the debate around post-colonial and decolonial perspectives arrived late in
Brazilian Social Sciences. This is partly due to the dynamics of academic dependence and the
geopolitics of knowledge since such criticisms were always mediated or authorized by the
global North. Although there have been decolonial studies with thinkers from the region since
the 1960s and 1970s, within discussions on dependence, liberation, and with references to
Dussel, Quijano, and a more Marxist record of the time, this perspective only gained visibility
from some meetings held in the global North. For example, Argentine Walter Mignolo, one of
the exponents of the decolonial philosophy, made his entire career in the United States and
projected his thinking within this field from Duke University. Although there is debate among
Latin American exponents, the material conditions for knowledge production occurred in the
global North. When Arif Dirlik was asked in the early 90s when postcolonialism began, he
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replied ironically: “When third-world intellectuals arrived at first-world universities”. Thus,
post-colonial and decolonial criticism face a paradox of origin, and it is necessary to deal with
this contradiction recurrently".
On the other hand, although the debate around post-colonial and decolonial perspectives
arrived late in Brazilian Social Sciences, as I mentioned earlier, the central themes of these
perspectives were already addressed by some disciplines and areas, even without claiming the
term. Anthropology, for example, deals with issues related to post-colonialism and decolonial
criticism when addressing different groups, post-colonial/colonized identities, and the
marginalization of these populations. Sociology has been entirely engaged in this debate in the
last two decades, updating the agenda of “third-world sociology” and the discussions on
theoretical and intellectual autonomy raised by it through theories and epistemologies of the
South. These debates were frequent in the 1950s and 1960s when there was much discussion
about independence, dependence, and theorization issues. Brazilian social thought brings
essential contributions to thinking about these issues without necessarily framing them within
the “decolonial” label. Since the late 2000s, researchers from Sociology and Anthropology have
been engaging with this critical agenda of knowledge construction in Social Sciences, as can
be seen in the works of Paulo Henrique Martins, Marcelo Rosa, João Marcelo Maia, Adélia
Miglievich, Eloísa Martín, and Cláudio Costa Pinheiro.
Political Science, in turn, is the discipline that arrives latest in this debate, especially
when compared to the area of International Relations (IR). In the case of IR, it is vital to
highlight the international influence of England and the United States. Again, global North
centers need to authorize or mediate the entry of these studies into contexts most affected by
inequality and academic dependence. As a result, IR is an area/discipline with more post-
colonial and decolonial discussions than Political Science. Even the boom in “Latin American
constitutionalism” studies occurred via Law. This can be observed in groups, congresses, and
seminars. Political Science arrives later in this debate due to its objects of research and its
conception of disciplined politics enclosed within an institutional register and, in a way,
presentist. This has a lot to do with the formation of the field in Brazil.
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In light of this, what are the challenges for a Political Science from the South?
It is crucial to consider the term “decolonial” not as an adjective or a school of its own
and not to understand it in the singular, as several derivations and meanings are disputed about
what decolonization is today. There is no single meaning or reading for this; it will depend on
what we understand by “decolonial” in different senses and directions.
Another fundamental point is to be critical of the totalizing way decolonial criticism has
circulated, generating conceptual hypertrophy. Care must be taken not to create a perspective
of colonial totality that can be complicated, where everything is colonized, and everything is
colonial. This does not help to understand the specificities of colonial power and its remnants.
Not all relations of power, domination, and oppression originate from colonialism, but
colonialism implies relations of domination, oppression, violence, and control. It is necessary
to know where politics is crossed by colonialism.
I agree that there is a particular abuse of this language, where what does not fit into a
decolonial Political Science would, therefore, be a colonizers Political Science. It is essential
to recognize that there are imported agendas and theoretical perspectives that do not consider
our specificities. At the same time, we are a community that seeks to build itself institutionally
from this (semi)peripheral condition. Although our Political Science is heavily influenced by
the United States, where Political Science is opening to specific perspectives, ours does
not always incorporate them similarly. It seems that we open up with mediation, permission
or with an influence from other contexts that become more porous. Significantly, Gayatri C.
Spivak was the keynote speaker at the International Political Science Association (IPSA)
World Congress in 2021.
We can think about the constitution of Political Science from the South, considering
the decomposition of its sub-disciplines and areas. Some are more fruitful for thinking
about interlocutions, collaboration, and proximity with Latin America, the Caribbean, and
Central America, which is fundamental and exciting to broaden this dialogue. ALACIP (Latin
American Political Science Association) is a place where this encounter has been
taking place. Associations have an important role in promoting this approach and enabling
breakthroughs.
We are not able to swim against the current alone. It is essential to realize that
many spaces must be built to work on specific issues. South-South dialogues are not yet ready
and, in some cases, are not even in place. There is still a long way to go to be constituted.
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Reflections on subalternity and decoloniality heavily mark the gender debate. How can
these criticisms help problematize Political Science towards an epistemology of the South?
Is it possible to think about the contradictions of the social sciences perspective and
scientific practice in Latin America?
Feminism has not been immune to the influence of post-colonialism and the decolonial
perspective. There is an entire field known as post-colonial feminism and decolonial feminism.
In the South-North or vice versa sense, the first global-level debate is the decolonization of
feminism, especially about representation, identities, and power relations within feminist
movements. There was a moment when Nancy Fraser was questioned in this sense and
acknowledged that these are internal discussions of feminism. However, this internal debate
transcended the boundaries of the movement itself, reaching the decoloniality of gender and its
relationship with the State.
It is interesting to note that, from a political and social point of view, Latin American
feminism has its agenda, including criticisms of neoliberalism and issues related to poverty and
material deprivation since the 1970s. The history of Latin American feminism is rich and
decolonial feminism, which developed especially after 2005, brought some specificities. In
political practice, it also built different repertoires, moving a field that is far from being
harmonious but that grows and has essential reference thinkers with consolidated trajectories,
such as Rita Laura Segato and María Lugones. This accumulation of reflections, debates,
political action, and practical experience of feminism can be a reference for thinking about a
political science from the South.
Another issue we wanted to address is what we can call the “divorce between empiricism
and theory” that we have observed in Political Science and leads research toward a very
instrumentalist perspective. It is as if Political Science were reduced to methods and
employability, and theory was discarded as an element, as well as qualitative
methodologies, more interpretive ones, when they are not subsumed into the positivist
model of Science. What do you think about this divorce and about what Brazilian Political
Science has produced in relation to it? In light of this, how can we think about the present
and future of our discipline?
This is an excellent question because it involves the neo-liberalization of Science.
Neoliberal rationality has influenced scientific thinking in various aspects, including
unreflective and socially uncommitted productivism and the disrepute of what is not operational
or utilitarian. Although concerns with methodologies may be valid, considering that they can
be diverse and reinforce the social importance of Science, the discipline is guided by the extent
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Towards a South-South perspective for Political Science in Brazil: An interview with Luciana Ballestrin
of metrics, measurement, causal explanations, and impacts. Combined with neo-liberalization,
this trend transforms political theory almost into an automatic dissidence from Political Science.
In this logic, more theoretical studies are lowering, which may involve erudition and a
deeper dive into social, political, and linguistic structures. The time required for theoretical
production does not keep up with the speed of current academic scientific production,
marginalizing and discrediting theory as a place for people who are not methodologically
oriented.
This is serious, especially considering the democratic crisis we have faced worldwide
in recent years. It is accompanied by a problem of theory, persecuted for not bringing immediate
return or being applicable and for the critical place it occupies in the thinking of the human
sciences.
This is an intrinsic criticism of our field and is directed toward the need for theoretical
reflection that has been compromised. Debates about issues surrounding us as human beings,
our conditions of existence, and inequalities are left aside. This can be felt when teaching theory
disciplines, such as in an International Relations course. Depending on the approach, political
theory can generate disinterest in students. Recently, I had a positive experience with a
contemporary political theory discipline, where the class was engaged and participatory, and I
was able to bring feminist and post-colonial perspectives. Ultimately, the students could relate
theory to reality and see themselves in discussions about identity, representation, and sexuality.
However, reading some themes and authors can be challenging and theoretical learning requires
permanent reading.
The process of democratizing the university brought research agendas that are very
atypical of Political Science, some themes that have been historically under-theorized,
such as gender, race, ethnicity, and politics aimed at the LGBTQIA+ population, among
others. How can this renewed interest in these themes coexist or collaborate with what we
consider mainstream in Political Science?
The democratization of public universities, the expansion of courses and programs, the
renewal of faculty and students, and their recruitment have contributed to renewing the agendas
and the university itself. This occurred because the university was questioned about its internal
elitism and began to come into contact with different Brazilian social and cultural realities,
including a significant portion that had been excluded from public universities for many years.
This expansion and democratization resulted from a government that engaged in dialogue with
different groups, was receptive to pressure, and recognized social mobilizations from diverse
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origins. Additionally, in the first decade of the 2000s, there was a progressive cycle in South
America as a whole, which was necessary for this transformation despite its limitations and
problems.
The democratic crisis we face is a reaction to the inclusion of new actors and the
advancement of more egalitarian agendas. The 21st century has been marked by dramatic
moments of democratic rupture with the election of authoritarian leaders. However, there were
also moments of popular extension and activation with the growth of specific national and
international agendas. These agendas have become more sensitive to racial inequalities, gender,
the LGBTQIA+ population, and indigenous communities. This happened outside the Marxist
context or the left associated with the world of labor and class, which dominated much of the
20th century. This is one of the issues debated in the field of the left in general, revolving around
identity politics.
What do you consider to be the emerging themes of Latin American Political Science,
then? How have they been driving our field?
The magnitude of the multiple crises is crucial when discussing transformations and
emerging themes. I am referring to the political democratic turmoil of recent years and the
environmental crisis, which has been ongoing for a long time. We have the epistemic crisis and
the pandemic crisis. Obviously, this context of multiple situations has affected various areas,
but they have directly impacted our discipline. Even those who studied public policy and state
bureaucracy could not avoid dealing with the damage caused by the Bolsonaro government to
essential parts of the Brazilian state. In international relations as well, including the current
issue of the Russian invasion of Ukraine. This event of great magnitude deeply affects Europe
and will have consequences for us here, creating a cascading effect, such as the supply crisis
that will arise. In short, there are several themes that are advancing in Brazilian and Latin
American Political Science and its established areas.
Considering its two strong explanatory paradigms - institutionalism and political culture
-we see the theme of the quality of democracy, which, from a more contemporary perspective,
brings the dimension of gender and state responses. If we think about it, the Argentine political
scientist Guillermo O'Donnell had concerns about inequalities in his political theory. Towards
the end of his career, he also focused on the quality of democracy.
Political theory is another strategic area for the issues we discuss, as it has historically
been a more undisciplined field. This is because it relates to political philosophy,
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Towards a South-South perspective for Political Science in Brazil: An interview with Luciana Ballestrin
psychoanalysis, and psychology. Political theory is a very democratic area and, I would say, the
most open field to work with new questions. In the Revista Sul-Americana de Ciência Política,
we have tried to give a little more emphasis to theory in recent years, but this has been somewhat
challenging. This is because Brazil has its centers of excellent production, and the pressure to
produce for particular qualified "A1" and "A2" journals makes this type of initiative lose
potential contributors and interlocutors.
The debate on gender and racial inequality, for example, has not been confined to our
objectives alone. They have occupied an important place in the discussion within the field
itself, with debates on disparities between women and men in Brazilian Political Science,
the impact of motherhood on careers, the concentration of scholarships among male
researchers, and the concentration of university management activities in the hands of
women, among others. How do you perceive this?
I consider the issue of women's participation in Political Science and gender disparities
to be extremely important. This topic has gained relevance and visibility in recent years, being
addressed in research and representations within the field. I recall the project and book
promoted by the Brazilian Political Science Association (ABCP) during the presidency of
Flávia Biroli (2018-2020), which explored the presence of women in this field and included
interviews with influential female political scientists from across Brazil. My concern has always
been to promote an opening toward a more equitable area and to seek progress, as has already
been witnessed by some international associations. Furthermore, this type of reflection - which
has a political nature and discusses the need for more excellent representation and participation
of different groups and perspectives - reflects social movements and representative groups and
has also entered the scientific realm. Political Science is traditionally a discipline with a
predominantly male presence, just like International Relations. It is important to emphasize that
when gender minority groups start participating, issues of inequality in positions and access are
raised to highlight the existing disparities. The idea is to occupy spaces so that, at some point,
this debate is no longer necessary.
Pursuing greater equality and representation is fundamental for various feminisms,
women's groups, and feminist movements. Motherhood within networks of women scientists is
of utmost importance as it relates to the intersection of productive and reproductive work and
their visibility in the public sphere. In other words, the dimension of domestic work itself and
the sexual division of labor are present when it comes to intellectual and academic work.
Lucy OLIVEIRA and Cristiano RODRIGUES
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I view this movement in the field with optimism and believe we are progressing and
advancing in this concern. This applies not only in a general sense but also in achieving
equitable representation in thematic areas, seeking more gender and regional symmetry. We
must not forget the need for discussions on race as well.
It is essential to highlight the context of a significant crisis. This is paradoxical. On the
one hand, we observe some advances that indicate institutions have been maturing, absorbing,
and actively seeking this positive development for some time amid a scenario that paradoxically
presents several democratic setbacks. We have experienced and are still suffering from the
effects of an extremely hostile political environment for experienced researchers and young
scientists. This new generation, recently obtaining their doctoral degrees or nearing completion,
has done so in a still hostile climate, with significant discouragement to pursue further research.
We can now rebuild and reconstruct some of what has been destroyed.
This crisis challenges us to rethink objects, methods, and our profession and field. It is
a great challenge, but we can find paths to promising horizons if we remain attentive.
What would be your suggestions for those interested in learning more about decoloniality,
post-coloniality, horizons, and emerging themes in Political Science? Where should one
start?
It is interesting to note that the question you are asking me now was one I asked myself
ten years ago. It is important to mention that in Political Science, we still have a limited number
of works on this topic. We find more traces of this discussion in related themes, such as the
debate on race and politics, gender and politics, but we are still in the early stages. Therefore,
we need to explore areas of intersection and interdisciplinary approaches to establish a solid
foundation. It is necessary to indicate connection points for this debate, whether with Sociology,
Anthropology, International Relations, or Law. We should conduct more research, produce
dossiers on these topics, and create spaces for discussion.
In 2013, I recall that we established a network called "Colonialities and International
Politics" due to a seminar organized by the Institute of International Relations at PUC-Rio that
year. Some of the discussions from that event were published in the book "Perspectivas pós-
coloniais e decoloniais em Relações Internacionais" (Postcolonial and Decolonial Perspectives
in International Relations), released in 2021 by EDUFBA and available online for free.
Furthermore, the same publisher will soon terminate a book on social theory and
postcolonialism, which emerged from a course taught during the pandemic. In recent years,
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. 00, e023003, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.31068/tp.v32i00.1060 12
Towards a South-South perspective for Political Science in Brazil: An interview with Luciana Ballestrin
interest in these topics has grown considerably, and I believe this requires an explanation. A
quick search in the CNPq Groups Directory reveals several initiatives from different areas and
disciplines across the country guided by postcolonial and decolonial critiques.
REFERENCES
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BALLESTRIN, L. Postcolonial and decolonial subaltern feminisms. Postcolonial Studies
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Salvador: EDUFBA, 2021.
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