Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023027, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1042 1
A AMÉRICA DO SUL NO GOVERNO BOLSONARO (2019-2022)
SUDAMÉRICA EN EL GOBIERNO DE BOLSONARO (2019-2022)
SOUTH AMERICA IN THE BOLSONARO´S GOVERNMENT (2019-2022)
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA1
e-mail: paulogustavo1978@gmail.com
Ivan Henrique de Mattos e SILVA2
e-mail: ivanhmsilva@gmail.com
Como referenciar este artigo:
CORREA, P. G. P.; SILVA, I. H. M. A América do Sul no governo
Bolsonaro (2019-2022). Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência
Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023027, 2023. e-ISSN: 2236-
0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1042
| Submetido em: 03/05/2023
| Revisões requeridas em: 03/07/2023
| Aprovado em: 11/09/2023
| Publicado em: 20/12/2023
Editores:
Profa. Dra. Simone Diniz
Prof. Dr. Eduardo de Lima Caldas
Profa. Dra. Mércia Kaline Freitas Alves
Dr. Vinícius Silva Alves
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Macapá AP Brasil. Professor do curso de Relações Internacionais
e do Programa de Pós-graduação em Estudos de Fronteira (PPGEF).
2
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Macapá AP Brasil. Professor do curso de Ciências Sociais e do
Programa de Pós-graduação em Estudos de Fronteira (PPGEF).
A América do Sul no governo Bolsonaro (2019-2022)
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023027, 2023. e-ISSN: 2236-0107
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RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal a discussão sobre as mudanças de
diretrizes da Política Externa Brasileira (PEB) durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022)
para a América do Sul. O subcontinente foi durante duas décadas plataforma de ação
internacional da PEB após o fim da Guerra Fria e a redemocratização do Brasil. Estratégias
distintas tiveram o entorno geográfico como base diplomática fundamental e ações bi e
multilaterais fortaleceram a América do Sul como entidade geopolítica com forte protagonismo
brasileiro. Entretanto, o governo Bolsonaro se elegeu a partir de um discurso que buscava
mudanças substantivas na tradicional diplomacia nacional, deslocando as relações existentes no
subcontinente. Nossa discussão será focada na política externa de Bolsonaro para América do
Sul e de como os preceitos que alicerçam o bolsonarismo refletiram no deslocamento
diplomático para a região. Faremos uma breve recapitulação da PEB para a América do Sul
desde os anos 1990. Em seguida, apresentaremos os conceitos e base ideológicas do
bolsonarismo, assim como sua conexão internacional. Finalmente, discutiremos as ações
diplomáticas do período bolsonarista para o entorno geográfico e suas consequências para os
existentes projetos regionais existentes.
PALAVRAS-CHAVE: América do Sul. Bolsonaro. Política externa.
RESUMEN: El objetivo principal de este artículo es discutir los cambios en las directrices de
la Política Exterior brasileña durante el gobierno de Jair Bolsonaro (2019-2022) para América
del Sur. El subcontinente fue una plataforma importante para la Política Exterior brasileña
durante dos décadas después del final de la Guerra Fría y la redemocratización de Brasil.
Diferentes estrategias tuvieron los alrededores geográfica como base diplomática fundamental
y acciones bilaterales y multilaterales fortalecieron a América del Sur como una entidad
geopolítica con un fuerte papel brasileño. Sin embargo, el gobierno de Bolsonaro fue elegido
con base en un discurso que buscaba cambios sustantivos en la diplomacia nacional
tradicional, modificando las relaciones existentes en el subcontinente. Nuestra discusión se
centrará en la política exterior de Bolsonaro para América del Sur y cómo los preceptos que
sustentan el bolsonarismo se reflejaron en el despliegue diplomático en la región. Haremos una
breve recapitulación de la Política Exterior de Brasil para América del Sur desde la década de
1990. Luego, presentaremos los conceptos y bases ideológicas del bolsonarismo, así como su
conexión internacional. Finalmente, discutiremos las acciones diplomáticas del período
bolsonarista para el entorno geográfico y sus consecuencias para los proyectos regionales
existentes.
PALABRAS CLAVE: América del Sur. Bolsonaro. Política exterior.
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA e Ivan Henrique de Mattos e SILVA
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023027, 2023. e-ISSN: 2236-0107
DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1042 3
ABSTRACT: The main objective of this article is to discuss the changes in the guidelines of
the Brazilian Foreign Policy during the government of Jair Bolsonaro (2019-2022) for South
America. The subcontinent was an important platform for the Brazilian Foreign Policy for two
decades after the end of the Cold War and the redemocratization of Brazil. Different strategies
had its geographic surroundings as a fundamental diplomatic basis and bi- and multilateral
actions strengthened South America as a geopolitical entity with a strong Brazilian role.
However, the Bolsonaro´s government was elected based on a discourse that sought substantive
changes in traditional national diplomacy, shifting existing relations in the subcontinent. Our
discussion will focus on Bolsonaro's foreign policy for South America and how the precepts that
underpin Bolsonarism reflected in the diplomatic deployment to the region. We will make a brief
recapitulation of the Brazilian Foreign Policy for South America since the 1990s. Then, we will
present the concepts and ideological bases of Bolsonarism, as well as its international
connection. Finally, we will discuss the diplomatic actions of the Bolsonarist period for the
geographic surroundings and their consequences for existing regional projects.
KEYWORDS: South America. Bolsonaro. Foreign policy.
Introdução
A América do Sul na Política Externa Brasileira (PEB) se tornou uma prioridade desde
o início dos anos 2000. A I Reunião de Presidentes da América do Sul em Brasília foi um marco
nesse processo. O final do segundo mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2002) e o governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) marcaram o subcontinente como
foco estratégico para a projeção internacional do Brasil.
Entretanto, o Governo de Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) significou uma mudança
substantiva do ponto de vista da política doméstica e internacional. Sua eleição representou a
ascensão de novos grupos sociais organizados político-ideologicamente denominado como
“nova direita”. Uma cosmovisão que buscou descontruir políticas estabelecidas nas últimas
duas décadas desde a redemocratização brasileira. Na esteira dessas desconstruções, mudanças
substantivas na tradicional diplomacia nacional foram operacionalizadas deslocando a América
do Sul como plataforma estratégica da PEB.
A dissonância diplomática do Governo Bolsonaro com uma política externa estabelecida
anteriormente por duas décadas no subcontinente é o foco de nossa análise. Faremos uma breve
recapitulação da PEB para a América do Sul desde os anos 1990. Em seguida, apresentaremos
os conceitos e base ideológicas do bolsonarismo e da nova direita para uma melhor
compreensão da estrutura conceitual que origina as mudanças na PEB. Finalmente,
A América do Sul no governo Bolsonaro (2019-2022)
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apontaremos algumas ações diplomáticas do período bolsonarista para o entorno geográfico e
suas consequências para os existentes projetos regionais existentes.
A América do Sul na política externa brasileira (FHC, Lula, Dilma, Temer)
O Brasil é o maior país do subcontinente sul-americano. Sua população, economia, força
militar, ciência e tecnologia do ponto de vista comparativo o coloca em posição de destaque na
América do Sul. Uma reconhecida diplomacia que tem origem no Barão de Rio Branco
fortaleceu seu papel nas relações internacionais regionais.
Desde sua redemocratização e o fim da Guerra Fria nos anos 1990s, o governo brasileiro
buscou desempenhar seu protagonismo através da sua capacidade de financiamento via bancos
nacionais, através da execução de projetos via empresas brasileiras e por meio da sua atuação
diplomática bi e multilateral. A influência do Brasil como ator estatal e de atores brasileiros
privados é diversa diante dos países do seu entorno geográfico.
No período dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luís Inácio
Lula da Silva (2003-2010) a América do Sul passou a ser plataforma de ação internacional. A I
Reunião de Presidentes da América do Sul em Brasília no ano 2000, promovida pela chancelaria
brasileira ainda no governo de Cardoso, representou o início de uma nova relação do país com
o subcontinente e estabeleceu um marco nas relações regionais sul-americanas por lançar
projetos importantes como a IIRSA.
As estratégias da política externa do Brasil nos governos de Fernando Henrique Cardoso
(FHC) e Lula da Silva (Lula) apresentaram diferenças e continuidades. FHC, dando seguimento
aos seus antecessores Fernando Collor de Mello e Itamar Franco, buscou dialogar com o mundo,
com as organizações internacionais (ONU, OMC), com as iniciativas regionais (Mercosul) e
hemisféricas (ALCA) em uma estratégia denominada “autonomia pela integração”
(VIGEVANI; OLIVEIRA, 2004, p. 34).
Lula, por sua vez, teve como estratégia aautonomia pela diversificação”, que consistia
em contribuir para um maior equilíbrio internacional buscando atenuar o unilateralismo do
mundo pós 11 de setembro; fortalecer relações bilaterais e multilaterais de forma a aumentar o
peso do país nas negociações políticas e econômicas internacionais; adensar relações
diplomáticas no sentido de aproveitar as possibilidades de maior intercâmbio econômico,
financeiro, tecnológico e cultural; e evitar acordos que possam comprometer em longo prazo o
desenvolvimento.
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA e Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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Com relação às diferenças e semelhanças entre os dois governos, Vigevani e Cepaluni
(2007) destacam que o período de Lula não se afastou do princípio historicamente assentado
para a diplomacia brasileira de que a política externa é um instrumento ao desenvolvimento
econômico, que busca a manutenção e ampliação da autonomia do Brasil no cenário
internacional. Salientamos que houve mudanças de ideias e estratégias para lidar com os
problemas e objetivos do país colocados por sua posição, história e destino, mas tais mudanças
não são essencialmente distintas entre os dois governos (p. 322).
Para FHC, a integração regional foi central na agenda brasileira como era desde
meados da década de 1980. Com ele, o processo de integração regional era visto como um
instrumento com o qual o Brasil poderia disputar um espaço maior no mundo. Para Lula, o
Mercosul continuou sendo um projeto importante a ser ampliado com a Comunidade Sul-
americana de Nações (Casa), transformada posteriormente na União de Nações Sul-Americanas
(Unasul). Os projetos que compõem a IIRSA ganham força no período de Lula através de
bancos, empresas e ação diplomática brasileira, colocando a integração da América do Sul como
assunto prioritário na agenda do Brasil.
Essa agenda brasileira que visou fortalecer a regionalização da América do Sul contou
com alguns elementos que favoreceram a aproximação dos países. Como por exemplo, após
uma década de governos neoliberais, os países foram tomados por uma onda de governos de
esquerda na região o que parece demonstrar atitude de ceticismo quanto à globalização liberal
que reproduziu as desigualdades existentes entre Norte e Sul.
Além disso, a converncia de pensamentos entre os dirigentes da região sobre a
formulação do projeto integracionista, não o limitando a “questões econômicas e comerciais,
ampliando seu escopo para aspectos políticos, sociais e de segurança; uma maior consolidação
da ideia de América do Sul na política externa dos países do subcontinente que apresenta uma
maior unidade política, econômica e de segurança que a ideia de América Latina” são fatores
importantes no fortalecimento da regionalização da América do Sul (CERVO, 2008, p. 163).
Esse conjunto de iniciativas regionais teve uma intensa participação do Brasil e é
justamente essa intensidade que marcaria a distinção do período Lula para com seu antecessor.
A atuação direta do presidente e de seus burocratas de primeiro escalão nesse processo foi
veemente. Lula utilizou-se do recurso da diplomacia presidencial com maior frequência que seu
antecessor, ou seja, participou pessoalmente das relações internacionais, seja por meio de
pronunciamentos, seja através da participação em foros internacionais, seja atuando
A América do Sul no governo Bolsonaro (2019-2022)
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diretamente em negociações e se transformando no principal condutor da política externa. O
destino principal das viagens de Lula foi a América do Sul.
A atuação dos altos burocratas na América do Sul no processo de regionalização também
se destacou principalmente com o chanceler Celso Amorim - ministro das Relações Exteriores
em todo o período do governo Lula e ministro da Defesa de Dilma Rousseff - com o ministro
da Defesa Nelson Jobim (2007-2011) e com o assessor especial da Presidência da República
para assuntos internacionais Marco Aurélio Gracia. Jobim, em 2008, visitou todos os países da
região com dois objetivos: a construção de uma identidade regional de defesa e a criação de
uma indústria bélica sul-americana.
Essa dinâmica da política externa brasileira buscou promover a consolidação do
subcontinente como uma entidade política transnacional dotada de unidade mínima e arcabouço
institucional baseado em princípios e macro-objetivos comuns nas relações internacionais.
Sobre essa entidade, Wanderley Messias da Costa afirma que
Considerando as características básicas da sua formatação inicial e do seu
desenvolvimento atual, esse modelo de arranjo regional constitui o único
projeto, nessa escala, que procura reproduzir em seus aspectos gerais a
experiência europeia, na qual a ambição maior dos seus Estados-membros
sempre foi a de conjugar o máximo de integração econômica a uma macro-
concertação político-institucional de natureza transnacional. Nesse sentido,
ele distancia-se bastante do modelo convencional que tem sido adotado pela
maioria dos demais Blocos Regionais, nos quais os limites da concertação
entre os seus Estados-membros estão previamente definidos e os objetivos
encontram-se explicitamente circunscritos aos assuntos econômico-
comerciais. É por isso que, guardadas as respectivas e óbvias particularidades
dessas duas experiências atuais, a integração sul-americana tende a reproduzir
aqui o percurso seguido até o presente pela União Europeia, no qual o
horizonte estratégico mais dilatado que os seus construtores têm em mente, é
a constituição e a consolidação de um vasto e engenhoso sistema regional
transnacional de governança (COSTA, 2009)
Entretanto, a construção da América do sul como um projeto estratégico brasileiro na
primeira década do século XXI deparou-se com fragmentações no subcontinente que
comprometem o desenvolvimento do projeto. Para Amado Cervo:
Se existe uma América do Sul política, feita em sua grande maioria de
governos de esquerda que criaram ambiente favorável ao reforço do polo de
poder, existem duas Américas do Sul econômicas, uma liberal e primária, que
busca o acordo de livre-comércio com os Estados Unidos, outra industrial e
desenvolvimentista, que se volta ao aprofundamento da integração entre os
vizinhos (CERVO, 2008, p. 203).
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA e Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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O papel de uma liderança, ou lideranças, na consolidação de uma região coesa e não
fragmentada é fundamental no processo de regionalização. Se dados atribuem naturalmente ao
Brasil um desempenho relevante nesse processo, para Jaime Preciado, o papel do Brasil nesse
contexto é o de uma semiperiferia com aspirações de potência global. E seu papel de
semiperiferia ativa
não somente se consolidou, mas incrementou, além disso, aspirações na
procura de seu posicionamento como potência global. A dimensão e a posição
geográfica do Brasil o consolidaram como um Estado de grande relevância
estratégica, por ter fronteira com todos os países da América do Sul, assim
como a maior extensão territorial e população da América Latina, além de um
gigantesco litoral no Atlântico, com zonas preferenciais, chaves no comércio
e na exploração de recursos off-shore (PRECIADO, 2008, p. 262)
Contudo, o papel do Brasil como semiperiferia ativa não lhe atribui necessariamente
uma posição de líder na região, questão pouco clara na história da política externa brasileira.
No período FHC, acreditava-se que a liderança não se proclamava, ela deveria ser exercida.
Nesse sentido, o tema não recebia muito destaque em sua gestão. No período Lula, por sua vez,
colocou-se não ostensivamente essa questão no debate político brasileiro. O desejo de obter um
papel de destaque na região e entre os países em desenvolvimento foi introduzido e tem se
constatado uma maior cobrança por parte dos países sul-americanos em relação ao Brasil
(VIGEVANI; CEPALUNI, 2007).
A cobrança dos países da região não é necessariamente voltada apenas a um líder, mas
à função do Brasil como paymaster - o papel do país, ou países, que absorve os custos da
integração e promove a construção de bens públicos coletivos necessários para o sucesso de um
processo de integração. Esse papel tem sido exercido pela França e Alemanha na construção,
consolidação e manutenção da União Europeia e na América do Sul o Brasil seria o país capaz
de se constituir como paymaster.
No artigo Bounded by the reality of trade: practical limits to a South American region
(2005), Sean Burges defende a tese de que o regionalismo na América do Sul surge como um
projeto sem um der disposto a exercer o papel de paymaster. No entanto ele serve ao interesse
do país que poderia exercê-lo: o Brasil. Quando o autor busca responder à indagação sobre o
que exatamente está guiando o impulso regional na América do Sul, sua resposta - que
considerou a expansão do comércio na região, a natureza dos investimentos e o progresso da
integração de infraestrutura - é de que existe uma ênfase no setor de energia, nas atividades da
Petrobras apontando para uma estratégia de garantir os suprimentos necessários de petróleo e
gás para abastecer a economia do Brasil. Mesmo com o crescimento do comércio de
A América do Sul no governo Bolsonaro (2019-2022)
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manufaturas em toda a região, é a demanda de energia juntamente com as ambições de liderança
brasileira os condutores do regionalismo e não o crescimento econômico cooperativo. Para
Burges:
uma região não se integrará totalmente se não oferecer retornos de magnitude
suficiente para incitar a pressão política para o aprofundamento por parte dos
atores econômicos e da sociedade civil. Com esses guias teóricos em mente,
o ponto relevante passa a ser o que não está acontecendo na América do Sul
para reforçar o regionalismo. As cadeias produtivas integradas não estão se
formando. O investimento permanece no modo de busca de recursos e de
mercado. O transporte intracontinental e os vínculos de facilitação do
comércio estão se modernizando muito lentamente (BURGES, 2005, p.450,
tradução nossa).
Finalmente, o autor conclui que:
o potencial econômico de uma região da América do Sul não tem a atração
necessária para obter apoio para uma busca entusiasmada do projeto. De fato,
a natureza unilateral dos benefícios decorrentes dos elementos da visão
regional promulgada até o momento está colocando em questão o futuro
político do Projeto, à medida que os outros Estados sul-americanos se tornam
cada vez mais insatisfeitos com um empreendimento liderado em grande parte
pelo Brasil, que oferece poucos benefícios imediatos e pode anunciar um
futuro de dependência de uma hegemonia regional emergente do Brasil
(BURGES, 2005, p. 450).
O Governo de Dilma Rousseff (2011-2016) foi marcado por fortes turbulências
internacionais e principalmente domésticas. Uma crise institucional e um processo de
impeachment finalizaram o período. A diminuição dos preços das commodities minerais e
agrícolas, fortes produtos brasileiros, e um manejo das contas públicas bastante questionado
internamente drenaram grande parte da força do Governo de Rousseff, refletindo diretamente
em sua Política externa de forma geral.
A estratégia da PEB nesse período foi substantivamente a mesma do governo anterior,
de Lula da Silva. Entretanto, além das crises mencionadas, podemos atribuir o perfil da
presidenta, menos afeito ao campo internacional do que seu sucessor, parte do declínio da ação
brasileira internacional.
Sobre esse declínio, Cervo e Lessa (2014, p. 149) apontam que “após uma fase de
ascensão do país como potência emergente, a inserção internacional do Brasil entra em declínio
entre 2011 e 2014”. Para nosso entorno geográfico não foi diferente. Iniciativas e protagonismo
regional são contraídas e as expectativas criadas na região sobre o papel do Brasil como
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA e Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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elemento incentivador da integração regional e da solução de crises vêm sendo frustradas
(SARAIVA, 2016).
Seu sucessor Michel Temer tampouco mudou o cenário de declínio da ação do Brasil na
região. Ao contrário, consumido pela crise interna de um processo de impeachment questionado
interna e externamente, Temer buscou se distanciar de qualquer projeto do Partido dos
Trabalhadores, inclusive na ação na América do Sul.
A nomeação de José Serra para o Ministério das Relações Exteriores é simbólica dessa
busca de distanciamento. A desconstrução da era Lula na PEB, vista como partidarizada e
ideologizada, foi um projeto do MRE no governo Temer.
A suposta desideologização” da PEB foi desenhada nas dez diretrizes que Serra
anunciou em seu discurso de posse. O então ministro acreditava que
A diplomacia voltará a refletir de modo transparente e intransigente os legítimos
valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia, a serviço do
Brasil como um todo e não mais das conveniências e preferências ideológicas
de um partido político e de seus aliados no exterior
3
.
Mais importante do que a ação do MRE no período Temer para a América do Sul, até
mesmo por ter sido pouco significativa, devemos destacar os contornos políticos que assume o
executivo brasileiro. A construção da PEB feita pelo período de Lula passou a ter sua negação
como projeto, principalmente do sucessor de Temer, Jair Messias Bolsonaro.
Bolsonaro e bolsonarismo
A eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República, em 2018, precisa ser
compreendida sob uma dupla perspectiva: por um lado, como o ponto alto da crise do pacto
social construído durante o processo de redemocratização no Brasil (SILVA, 2021a) - cujo
corolário foi, segundo Sallum (2004), a estruturação da Nova República, a partir de 1994; e,
por outro, como o desaguadouro institucional da ascensão política, ideológica e organizativa de
novos grupos sociais no Brasil: as novas direitas (SILVA, 2021b).
Duas breves definições conceituais se fazem necessárias aqui: em primeiro lugar, a
despeito da polissemia dos conceitos de direita e esquerda - bem como das reiteradas tentativas
(epistemológicas e políticas) de obsoletizar tal dicotomia, em defesa da existência de um mundo
pós-ideológico (afirmação que teve muita força ao longo dos anos 1990, na esteira do new
3
Mais em: http://www.funag.gov.br/ipri/images/repertorio/diretrizes-governo-Temer-Ministro-Serra.pdf
A América do Sul no governo Bolsonaro (2019-2022)
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labour inglês e da influência teórica da obra de Giddens) -, assume-se, aqui, a definição
fornecida por Bobbio (2011), segundo a qual o que separa direita e esquerda é a maior ou menor
aceitação da desigualdade como a ordem natural do mundo; ou seja, quanto mais à direita, mais
as desigualdades (em suas várias dimensões) seriam aceitas como naturais, e, quanto mais à
esquerda, mais elas seriam aceitas como social e politicamente construídas.
A segunda definição diz respeito ao aspecto de novidade apresentado pelas chamadas
novas direitas - representadas pelos novos movimentos sociais, partidos e lideranças políticas
surgidos, no Brasil, na esteira da crise da Nova República, sobretudo a partir da janela de
oportunidades representada pelas jornadas de junho de 2013. Para além do elemento
conjuntural, a conjunção de cinco características distintivas permite que essa miríade de
expressões políticas (monarquistas, anarcocapitalistas, ultraliberais, militaristas,
fundamentalistas cristãos, masculinistas etc.) esteja, por um lado, aglutinada sob um signo
único, e, por outro, constitua um fenômeno novo no tecido social brasileiro: um framework
metapolítico, ou seja, a compreensão da arena cultural como lócus privilegiado de disputa
política e a sua hegemonia nela uma condição ex ante para a disputa de espaços institucionais;
o anti-intelectualismo, compreendido tanto como a rejeição aberta e frontal das instâncias
tradicionais de produção, legitimação e reprodução dos regimes de verdade – notadamente, as
universidades, centros de pesquisa e escolas –; o antielitismo, politicamente traduzido como a
valorização ética, estética e epistemológica do cidadão médio e do senso comum como
instrumento de apreensão do real; a instrumentalização do discurso politicamente incorreto
como arma de uma retórica antissistema; e a síntese entre liberalismo econômico e
conservadorismo moral, aglutinados a partir da elevação da família patriarcal ao posto de
categoria ordenadora do mundo social (SILVA, 2021a).
As primeiras décadas do século XXI têm experimentado, em grande parte do mundo, a
ascensão política e ideológica de novos grupos abertamente identificados com uma direita
reinventada (CARAPANÃ, 2018; PINHEIRO-MACHADO, 2019; ROCHA, 2018), e com forte
conexão com um rearranjo profundo decorrente da crise estrutural do capitalismo em sua matriz
neoliberal desde 2008. A crise de hegemonia da sociabilidade neoliberal e, por extensão, das
instituições e valores a ela associados é o pano de fundo para a constituição das novas direitas
contemporâneas (FRASER, 2018; PINHEIRO-MACHADO, 2019; SILVA, 2021a).
No caso brasileiro, essas novas direitas – que começaram a se organizar em meados da
década de 2000 (ROCHA, 2018) encontraram na chapa liderada pelo então deputado Jair
Bolsonaro, em 2018, o desaguadouro institucional de um longo processo de disputa ideológica
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA e Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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no seio da sociedade civil. Segundo Rocha (2018), esses grupos começam a se organizar
politicamente no Brasil durante o auge do lulismo, ainda que tenham se estruturado primeiro
como um contra-público, dada a hegemonia existente na esfera pública daquilo que Burity
(2018) chama de um modelo de subjetivação nucleado na ideia de tolerância, e com forte apoio
no pluralismo liberal (SILVA, 2021a). Como o debate político nacional se estruturava em torno
de um governo de centro-esquerda, capitaneado pelo Partido dos Trabalhadores, e de uma
oposição hegemonizada por uma centro-direita que sequer reconhecia, abertamente, sua
vinculação ao campo da direita – a direita envergonhada (POWER, 2000) –, capitaneada pelo
Partido da Social-Democracia Brasileira, não havia, então, guarida na esfera pública para a
difusão de opiniões mais radicalizadas à direita. O relativo consenso em torno de um léxico
mais inclusivo, aliado à aceitação geral da democracia como valor inegociável, converteram-se
em componente ideológico estruturante da Nova República no Brasil (SILVA, 2021a).
Em função desse veto ao radicalismo de direita na esfera pública, indivíduos
ideologicamente identificados com a extrema-direita encontraram na internet um ambiente
para, em primeiro lugar, reconhecer seus “iguais”, e, em seguida, constituírem-se em um grupo
mais ou menos coeso, a partir de grupos de discussão, redes sociais e fóruns da internet
ancorados em pautas radicalizadas e em uma linguagem debochada (DI CARLO; KAMRADT,
2018; ROCHA, 2018). Ainda que, a partir de então, pudessem reconhecer nos ambientes
virtuais a sua condição coletiva consubstanciada pelo compartilhamento de valores e ideias
ultraconservadores (embora difusos) –, faltava a eles um elemento crucial para que pudessem
fazer a transição de um “grupo em si” para um “grupo para si”: um instrumental político e
ideológico mais organizado. Se o ambiente virtual deu a esses indivíduos a oportunidade de se
reconhecerem como grupo com valores compartilhados, o contato com o pensamento do
ideólogo Olavo de Carvalho lhes forneceu linguagem política (ROCHA, 2021).
A importância de Carvalho no processo de constituição das novas direitas brasileiras
primeiro enquanto um contra-público, e, depois, como ator político central se deve,
fundamentalmente, a dois fatores: primeiro, porque ainda que não tenha sido o responsável
por organizar politicamente o campo, ele foi capaz de traduzir as angústias de importantes
parcelas da população brasileira em um argumento eficaz (com sua verve debochada, irônica e
agressiva), dando corpo explicativo ao ressentimento, e, assim, viabilizando o enraizamento de
um ideário construído a partir da síntese entre conservadorismo moral e defesa do livre-mercado
(ROCHA, 2018; TEITELBAUM, 2020); e, segundo, em função do próprio reconhecimento,
por parte de figuras de proa dos campos liberal e conservador no país, de seu papel na
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construção de espaços, na esfera pública, mais receptíveis a pautas conservadoras antes
“bloqueadas” pelo imperativo do “politicamente correto” (BERLANZA, 2017). Dada a sua
capacidade de conceder aos grupos que compõem as novas direitas brasileiras um grau mínimo
de homogeneidade e consciência de sua própria função, Olavo de Carvalho é seu principal
intelectual orgânico (SILVA, 2021b).
O núcleo duro da cosmovisão olavista – que estrutura, por extensão, em grande medida,
a cosmovisão das novas direitas brasileiras pode ser resumida nos seguintes argumentos:
apoiado na escola tradicionalista (TEITELBAUM, 2020, SILVA, 2021b), Olavo de Carvalho
assume uma postura bastante crítica em relação ao conhecimento produzido nas Universidades
– tanto de um ponto de vista epistemológico como político. Do ponto de vista epistemológico,
porque sustenta que a única maneira de acessar o conhecimento (que é universal e
transcendente) é por intermédio de uma reflexão individual e introspectiva, que possui na
intermediação mitológica (no caso, do Cristianismo) a ponte inescapável para acessar o logos
– cujas evidências podem ser apreendidas por meio do senso comum (CARVALHO, 1999). Do
ponto de vista político, porque sustenta que enquanto estratégia derivada da derrota da
resistência armada à ditadura militar as esquerdas brasileiras teriam paulatinamente
construído uma firme hegemonia em todas as instâncias produtoras de cultura no país
(universidades, centros de pesquisa, imprensa e até mesmo o cinema) (CARVALHO, 1994;
1998; 1999; SILVA, 2021b). Aqui entra um outro componente crucial da retórica olavista: o
conspiracionismo. O argumento parte da premissa de que uma conspiração de grandes
proporções em curso, motivo pelo qual a busca do conhecimento poderia ser efetiva se
partilhasse como no princípio ontológico da revelação dessa mesma premissa como seu
mito fundador: desde a fundação do Partido Comunista do Brasil, em 1922, haveria, no país,
uma conspiração ininterrupta que teria como objetivo destruir os pilares da civilização ocidental
a partir da destruição do capitalismo (ROCHA, 2021).
A retórica da conspiração, aliás, não é circunstancial em sua obra, mas estrutural:
retomando argumentos de Guénon, Lasch e Voegelin (este, em especial), Carvalho identifica
uma conspiração de grandes proporções existente ao longo de boa parte da História, cujas
origens poderiam ser traçadas ao próprio materialismo clássico de Epicuro:
O conspiracionismo ocupa uma posição privilegiada na obra de Carvalho: toda
a marcha da modernidade poderia ser resumida a uma conspiração de elites
seculares buscando suplantar a centralidade explicativa e normativa da
religião este é, aliás, o grande tema de seu livro O Jardim das Aflições. A
civilização ocidental concebida como herdeira da tradição judaico-cristã e
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centrada na família tradicional e no sexo convencional (PINHEIRO-
MACHADO, 2019) teria encontrado no Cristianismo a construção simbólica
mais elaborada tanto de uma verdade universal transcendente, como da
necessária intermediação (pontifex) para o acesso a ela na própria figura de
Cristo: o logos feito carne tese emprestada de Voegelin (1992). Todavia, com
o advento da modernidade, e, principalmente, após os impulsos de
transformação do Renascimento e do Iluminismo, novas elites surgiram com
o objetivo declarado de instaurar uma “teologia civil”, materialista, que viesse
a suplantar a ontologia cristã e, portanto, estabelecer o primado do relativismo
cultural e do historicismo absoluto, corroendo os fundamentos e valores
tradicionais da civilização ocidental. Os comunistas seriam, nesse sentido, a
ponta de lança contemporânea de um processo que tem suas origens na
influência da filosofia materialista de Epicuro para o marxismo, tal como
para o epicurismo, não haveria a possibilidade de uma verdade objetiva, e,
portanto, a teoria não serve a não ser para estimular retoricamente a ação
prática (SILVA, 2021b, p. 8).
A cosmovisão olavista pode ser sintetizada na seguinte concatenação lógica:
1. A esquerda estaria axiomaticamente equivocada por um duplo motivo: por um lado,
porque, ao focar seus esforços de reflexão no devir, ao invés de observar o imperativo da
experiência pretérita, perderia capacidade analítica; e, por outro lado, porque ativamente se
absteria de explicar o mundo tal como ele se apresenta para – num delírio demiúrgico – moldá-
lo segundo suas vontades;
2. A estratégia mobilizada pela esquerda para moldar o mundo segundo suas vontades
residiria em destruir todo o patrimônio cultural acumulado pela civilização ocidental e
cristalizado no senso comum a partir da sua condição hegemônica no âmbito das instâncias
produtoras de cultura (universidades, centros de pesquisa, imprensa, cinema etc.);
3. Nesse processo, seria essencial destruir a Metafísica e a Religião (dado seu apego à
concepção de uma “verdade universal”), e estabelecer o materialismo relativista como a nova
“teologia civil”;
4. Portanto, se a esquerda domina a produção da cultura nas instâncias tradicionais de
produção, reprodução e legitimação dos regimes de verdade, e a utiliza como instrumento de
luta política com o objetivo de destruir a civilização ocidental, seria imprescindível às direitas
a disputa por novos regimes de verdade produzidos em outros espaços que não as universidades
– em especial, as redes sociais.
Se, por um lado, a organização embrionária das novas direitas se deu no ambiente
virtual, e enquanto um contra-público, sua ascensão política e eleitoral deve ser compreendida
no âmbito de outro processo de ampla magnitude no Brasil: o ocaso da Nova República (SILVA,
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2021a). Embora esses grupos tenham aproveitado a janela de oportunidades fornecida pela
efervescência social dos massivos protestos de 2013 – de quando datam, por exemplo, a criação
do MBL, do Vem Pra Rua, do Revoltados Online e de uma miríade de outros movimentos
sociais das novas direitas –, sua ascensão ao centro da disputa política brasileira é um sintoma
da crise de hegemonia do pacto social construído no esteio da redemocratização (SILVA,
2021a).
Política externa de Bolsonaro para a América do Sul
O percurso da história da política externa e a diplomacia brasileira consolidou uma
tradição e estrutura burocrática governamental reconhecida internacionalmente por sua
competência e seu profissionalismo. As diferentes estratégias da política externa nos distintos
governos não afetaram estruturalmente o Ministério das Relações Exteriores. Nesse sentido, o
governo Bolsonaro representou um abalo no alicerce da inserção internacional do Brasil.
Nomear e identificar uma estratégia política coerente no período é um desafio intelectual
substantivo diante de movimentos pouco coordenados ou caóticos.
No artigo “Bolsonaro e a reorientação da política exterior brasileira” (2019)
4
, Vidigal
aponta que a PEB bolsonarista representou uma abdicação das tradições de autonomia e de
desenvolvimento da diplomacia brasileira. De acordo com o autor, entre outros elementos
podemos perceber um predomínio da força do liberalismo econômico em uma de suas versões
mais rasas e alinhamento sem reciprocidade (com os Estados Unidos) como pontos marcantes
da PEB bolsonarista.
A análise de Saraiva e Silva (2019)
5
buscou compreensão a partir de duas variáveis
importantes na política externa: ideologia e pragmatismo. Para as autoras, num olhar temporal
apenas do primeiro ano de Bolsonaro,
vimos os diferentes impactos da ideologia e do pragmatismo sobre a política
externa do governo Bolsonaro até aqui. Seus defensores podem ser resumidos,
no caso dos ideólogos, no grupo chamado olavista (influenciado pelo
escritor Olavo de Carvalho), cujo principal representante em política externa
seria o chanceler Ernesto Araújo, apoiado por Eduardo Bolsonaro. Entre os
pragmáticos, os militares e grupos domésticos que sofreriam diretamente com
as consequências práticas de ações movidas puramente pela ideologia, como
4
Cf. VIDIGAL, C. E. Bolsonaro e a reorientação da política exterior brasileira. Meridiano 47 (UNB), v. 20, p. 1-
16, 2019.
5
Cf. SARAIVA, M. G.; SILVA, A. V. C. Ideologia e pragmatismo na política externa de Jair Bolsonaro. Relações
Internacionais (Lisboa), v. 64, p. 117-137, 2019.
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA e Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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setores da agropecuária. Seu principal representante vem sendo o vice-
presidente Hamilton Mourão (p. 130).
Paulo Roberto de Almeida diplomata, acadêmico e tradicional crítico da diplomacia
“lulopetista” apresenta uma coleção de escritos da PEB bolsonarista e apontando a
“demolição” da diplomacia brasileira
6
. Almeida (2022)
7
destaca que
O programa de governo do candidato Bolsonaro anunciava, de maneira
oficial, em agosto de 2018, que ele faria uma pequena revolução na política
externa e na diplomacia, ainda que o seu enunciado fosse o mais
esquizofrênico possível. A anunciada ruptura com todos os padrões e diretrizes
das políticas externas e das diplomacias anteriores foi tão explícita que suas
linhas básicas contidas no documento entregue ao Tribunal Superior Eleitoral
(2018, 79) feitas provavelmente por completos amadores em temas
internacionais (p. 53)
Finalmente, destacamos o trabalho de Monica Hirst e Tadeu Morato Macie
8
, “A Política
Externa do Brasil nos tempos do governo Bolsonaro” (2022). A pesquisa analisou três pilares
na qual se baseou a PEB do Bolsonaro. Quais sejam: núcleo político ideológico, política
econômica liberal-conservadora e o complexo de segurança e defesa. Tais pilares conduziram
a ação externa do Brasil do ponto de vista regional e internacional.
As autoras destacam que do ponto de vista internacional os pilares da PEB de Bolsonaro
podem ser resumidos da seguinte maneira (s/p):
Núcleo político ideológico: Ativismo antiglobalista, alinhamento ao governo Trump e
aproximação ao círculo de países com regimes de extrema direita;
Política Econômica liberal-conservadora: Atração de investimentos internacionais,
reconfiguração da presença brasileira na economia internacional e preservação dos vínculos
econômicos com a China;
Complexo de Segurança e Defesa: Fortalecimento da relação com os EUA (Comando
Sul), reconhecimento como aliado extra-OTAN cooperação militar e em segurança com
governos afins - como Israel, Emirados Árabes e Índia.
6
Cf. ALMEIDA, P. R. Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira. 1. ed. Curitiba:
Appris, 2021. v. 1. 291p.
7
Cf. ALMEIDA, P. R. Rupturas e continuidades na política externa brasileira, 1985-2023: vicissitudes da
diplomacia no Brasil. CEBRI revista, v. 1, p. 40-55, 2022.
8
Texto apresentado no seminário “Gobernanza democrática y regionalismo en América Latina ¿en crisis o
recomposición?”, no Colégio de Mexico em fevereiro de 2020. Disponível em:
https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/download/4771/9230/9673. Acesso em: mar. 2023.
A América do Sul no governo Bolsonaro (2019-2022)
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Para Hirst e Macie (2022):
A articulação entre o negacionismo e o isolacionismo latentes robustece o
perfil antiregionalista da política externa de Bolsonaro. A diplomacia
brasileira tem produzido uma política de “má-vizinhança”, na qual abre-se
mão de variáveis brandas de poder e impõe uma presença dissuasiva que se
faz acompanhar por laços econômicos com baixa institucionalização e um
diálogo político de monossílabos, sem pretensões de ocupar espaços em
instituições multilaterais de nível regional e/ou global. Ao mesmo tempo, ao
defender um alinhamento incondicional com as posições internacionais do
governo Trump (inclusive se posicionando publicamente em prol da reeleição
do candidato republicano nas eleições de 2020), a gestão Bolsonaro instalou a
centralidade do vínculo com os Estados Unidos na Política Externa Brasileira
(s/p)
A possível lógica ou estratégia bolsonarista na diplomacia se estendeu para a América
do Sul. De fato, é possível observar uma atuação intensificada na busca de uma “revolução na
política externa e na diplomacia” uma vez que as últimas duas décadas foram de forte atuação
regional brasileira dos governos anteriores. Os pilares da PEB de Bolsonaro - analisados por
Hirst e Macie e mencionados acima - são evidentes na América do Sul.
O “Núcleo político ideológico” teve seu cerne na relação com a Venezuela. “O Brasil
vai virar a Venezuela” foi mote campanha bolsonaristas no processo eleitoral em 2018. O
“meme” buscava engajamento não apenas na referência à situação econômica do país. A
“ameaça comunista” era também base fundamental do olhar sobre o país vizinho e,
principalmente, sobre o partido dos Trabalhadores
9
.
Desde a ascensão de Hugo Chavez ao poder (1999-2013) a aproximação entre Brasil e
Venezuela se intensificou. As parcerias renderam a inclusão da Venezuela no MERCOSUL
(2012), a derrota do projeto dos Estados Unidos de se constituir a Área de Livre Comércio das
Américas (2005) e um soldo comercial positivo para o Brasil de mais de US$ 4 bilhões. Ações
que podem ser oriundas de aproximação ideológica, mas com forte resultado pragmático.
A queda do preço do barril de petróleo e a consequente decadência econômica da
Venezuela se juntou a uma crise política que o sucessor de Chavez, Nicolas Maduro, busca
contornar até os dias de hoje. Um processo migratório intenso em direção ao Brasil, mais
especificamente para o estado de Roraima, subsidiou os argumentos bolsonaristas para o
rompimento das relações do Brasil com o país vizinho durante o governo Bolsonaro.
9
Cf. CHAGAS, V.; MODESTO, M.; MAGALHAES, D. O Brasil vai virar Venezuela: medo, memes e
enquadramentos emocionais no WhatsApp pró-Bolsonaro. ESFERAS, p. 1, 2019.
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA e Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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Gilberto Maringoni destaca que
Jair Bolsonaro elegeu a Venezuela como país inimigo na América do Sul. Ao
longo de seu primeiro ano, buscou isolar e agredir o governo Maduro em
fóruns internacionais, aliando-se fielmente ao Departamento de Estado dos
EUA. O resultado é a perda de credibilidade regional da diplomacia brasileira
(p. 173)
10
Outro movimento de Bolsonaro na desconstrução do legado existe da PEB para o
América do Sul foi o movimento de aproximação do Brasil com o Chile, mais precisamente de
Bolsonaro com Sebastián Piñera. O Chile foi o primeiro destino de viagem internacional de
Bolsonaro na América do Sul justamente pelo alinhamento ideológico entre os presidentes.
Essa aproximação com governantes Sul-americanos conservadores buscou ser
fortalecida com a participação do recém-criado Fórum para o Progresso da América do Sul
(PROSUL).
Esse Fórum se propôs a renovar e fortalecer o processo de integração das nações da
América do Sul. Uma iniciativa do Chile e Colômbia que teve adesão do Brasil, Equador,
Argentina, Peru e Paraguai em 2019, período que contou com uma ascensão da direita nos
governos desses países. Uma evidente tentativa regional de esvaziar a UNASUL.
Em relação ao “Complexo de Segurança e Defesa” destaca-se três movimentos da PEB
bolsonarista: a aproximação militar com os Estados Unidos, a retirada do Brasil da União das
Nações Sul-Americanas (UNASUL) e a securitização da migração venezuelana para o Brasil.
Esses movimentos são representativos por coadunar e sintetizar a PEB regional. A
relação com os EUA é historicamente pendular com a relação regional, ou seja, aproximação
com a superpotência em detrimento da relação com o entorno geográfico. O esvaziamento da
UNASUL, organização intergovernamental construída a partir de iniciativa brasileira,
enfraquece o multilateralismo regional. O acolhimento da migração venezuelana no Brasil ser
feito por militares evoca a relação estabelecida com a Venezuela e o que ela representou no
governo Bolsonaro.
Hirst e Macie (2022) apontam que:
No âmbito regional, abandonou-se por completo a perspectiva da cooperação
sulamericana no campo da defesa, tornando letra morta o envolvimento do
Brasil no Conselho de Defesa da UNASUL. Por outro lado, a tentativa de
alinhamento com as perspectivas dos EUA sobre as questões de segurança na
10
Cf. MARINGONI, G. Venezuela, o novo espantalho. In: Gilberto Maringoni; Giorgio Romano Schutte, Tatiana
Berringer. (Org.). As bases da política externa bolsonarista: relações internacionais em um mundo em
transformação. 1ed.Santo André: Editora da Universidade Federal do ABC, 2021, v. 1, p. 173-182.
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América Latina, havendo maior grau de permissibilidade à presença de militares
norte-americanos na região. A vizinhança norte da América do Sul vem se
tornando um espaço para o aprimoramento de uma presença militar dissuasiva,
articulada com percepções defensivas frente a governos, organizações e
movimentos identificados como ameaças político-ideológicas. Verifica-se a
militarização crescente da região amazônica, tanto por conta da crise com a
Venezuela e os processos migratórios resultantes, como também em relação ao
combate de focos de incêndio na região durante 2019. Essa dinâmica tem gerado
um fortalecimento da agenda de fronteiras, associado ao processo de
securitização da ajuda humanitária, que em 2018 conduziu à montagem da
Operação Acolhida no estado de Roraima (HIRST; MACIEL, 2019, n.p ).
O amálgama liberal-conservador merece atenção especial, sobretudo por representar o
núcleo duro do arcabouço ideológico das novas direitas (CHALOUB; PERLATTO, 2015;
ROCHA, 2018; SILVA, 2021b). A despeito da aparente contradição existente entre duas
tradições do pensamento político ocidental que, de fato, nascem antagônicas, há uma profunda
afinidade de sentido entre o neoliberalismo e o neoconservadorismo (BROWN, 2019; NETTO
et al., 2019; SILVA, 2021b), tornada possível a partir de três movimentos: a desconstrução ao
longo dos séculos XIX e XX de três pilares fundacionais do liberalismo (a República como
horizonte normativo da modernidade, o contratualismo e o jusnaturalismo) (SILVA, 2021b); a
aceitação, por parte da tradição conservadora, da modernidade econômica (ou seja, a economia
de mercado) (BROWN, 2019); e a identificação comum da família patriarcal como categoria
ordenadora da reprodução social hodierna (NETTO et al., 2019).
Considerando que o liberalismo, enquanto campo filosófico (e expressão ideológica por
excelência da burguesia em sua fase revolucionária), nasce como um contraponto insurgente ao
Estado absolutista e ao monopólio oligárquico da propriedade da terra, ancorado no tripé
individualismo, jusnaturalismo e contratualismo (BOBBIO, 2017), e organizado a partir de um
ethos essencialmente igualitário (KERSTENETSKY, 2005; DARDOT; LAVAL, 2016), e, por
sua vez, que o conservadorismo nasce como reação direta às revoluções burguesas (cuja
principal e mais emblemática expressão foi a Revolução Francesa), sobretudo quanto ao seu
substrato igualitário (MIGUEL, 2002), é evidente que qualquer associação entre esses campos
seria possível por uma falsificação ideológica ou por uma aliança tática conjuntural.
Contudo, o amálgama liberal-conservador se apresenta como parte fundamental do arcabouço
ideológico das novas direitas, de modo geral, e do bolsonarismo, de modo mais específico
(NETTO et al., 2019).
Para compreender essa associação estrutural é preciso compreender o profundo processo
de reestruturação ontológica pelo qual o liberalismo passou entre os séculos XVIII e XX, a
partir do qual as suas expressões hegemônicas se despiram de qualquer viés igualitarista, e, no
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limite, também de sua feição jusnaturalista/contratualista (SILVA, 2021b): se a contundente
crítica de Schumpeter (tanto ao debate clássico acerca da democracia, como aos seus
contemporâneos distributivistas, de Keynes a Hobhouse e Dewey) sacramentou, em grande
medida, o abandono da noção de República (em sentido rousseauniano) como o horizonte
normativo da modernidade na chave liberal (MIGUEL, 2002), as escolas de Chicago e austríaca
foram as principais responsáveis pelo abandono do contratualismo (i.e., da soberania popular
como legitimação exclusiva do poder) (SILVA, 2021b).
Do ponto de vista concreto, as agendas liberal e conservadora compuseram o núcleo
duro da agenda política do bolsonarismo, inclusive quanto à sua política externa - desde a
decisão imperiosa pela tentativa de entrada do Brasil na OCDE até a adesão brasileira ao
chamado Consenso de Genebra (assinado em outubro de 2020) - associação de países que, na
esteira do avanço das novas direitas no âmbito mundial, endossou a aprovação de um
documento que defende um forte retrocesso da agenda dos direitos reprodutivos das mulheres,
sustentando a criminalização do aborto em qualquer hipótese.
Considerações Finais
Uma sólida experiência diplomática desde o Barão de Rio Branco conformou a expertise
técnico-política do Itamaraty na construção de uma política externa consistente. Diferentes
estratégias marcaram a aproximação do Brasil com diferentes polos de poder e distintos
interesses em âmbito internacional. A América Latina esteve como região estratégica na PEB
de alguns governos. Nas últimas duas décadas América do Sul tornou-se pilar da projeção
internacional do Brasil, perpassando diferentes períodos governamentais.
A eleição de Bolsonaro em 2018 e a cosmovisão dos grupos sociais representados pelo
bolsonarismo foi um hiato substantivo na relação do Brasil com o resto do mundo e,
principalmente, com a América do Sul. A busca de uma revolução na política externa e na
diplomacia nos quatro anos do Governo Bolsonaro geraram ruídos com parceiros tradicionais
e abandono de uma política regionalista.
A concepção de mundo que sustenta o bolsonarismo, como apontamos, se apoia em um
anti-intelectualismo, antielitismo, uma instrumentalização do discurso politicamente incorreto
como arma de uma retórica antissistema e a síntese entre liberalismo econômico e
conservadorismo moral. Entretanto, um outro elemento que ampara ideologicamente o discurso
e a ação política com destaque na esfera internacional é o conspiracionismo.
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Como destacamos, o ponto de partida argumentativo bolsonarista parte da premissa de
que existe uma conspiração de grande proporção em curso, orquestrada pela esquerda e
operacionalizada através do globalismo. Uma estratégia esquerdista mundial capaz de moldar
o mundo de forma a destruir o patrimônio cultural da civilização ocidental. Um domínio cultural
da esquerda mundial na produção, reprodução e legitimação dos regimes de verdade.
Na direção conspiracionista o combate ao globalismo necessita de novos regimes
originados a partir da dissolução do legado da esquerda global. Uma América do Sul,
constituída e consolidada em um sistema regional transnacional de governança, oriunda de uma
onda progressista no subcontinente representa na cosmovisão conspiracionista bolsonarista uma
grande ameaça.
O esvaziamento das instituições regionais como a UNASUL, a dissolução de relações
estabelecidas com parceiros tradicionais como a Venezuela e o entusiasmo pelo PROSUL são
alguns apontamentos de ações do período Bolsonaro na busca da desconstrução de um legado
oriundo do globalismo.
A alternância de poder na América do Sul nos últimos dois anos tem apontado para um
novo momento progressista na política doméstica e internacional de alguns países. A centro-
esquerda voltou em países como o Brasil, Argentina, Chile e Colômbia. Um cenário a ser ainda
estudado no que diz respeito ao processo de regionalização.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não se aplica.
Financiamento: Esta pesquisa conta com apoio financeiro do Projeto Pró-Defesa (CAPES).
Conflitos de interesse: Não se aplica.
Aprovação ética: Não se aplica.
Disponibilidade de dados e material: Não se aplica.
Contribuições dos autores: Não se aplica.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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SOUTH AMERICA IN THE BOLSONARO´S GOVERNMENT (2019-2022)
A AMÉRICA DO SUL NO GOVERNO BOLSONARO (2019-2022)
SUDAMÉRICA EN EL GOBIERNO DE BOLSONARO (2019-2022)
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA1
e-mail: paulogustavo1978@gmail.com
Ivan Henrique de Mattos e SILVA2
e-mail: ivanhmsilva@gmail.com
How to reference this article:
CORREA, P. G. P.; SILVA, I. H. M. South America in the
Bolsonaro´s government (2019-2022). Teoria & Pesquisa: Revista
de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023027, 2023. e-
ISSN: 2236-0107. DOI: https://doi.org/10.14244/tp.v32iesp.3.1042
| Submitted: 03/05/2023
| Required revisions: 03/07/2023
| Approved: 11/09/2023
| Published: 20/12/2023
Editors:
Profa. Dra. Simone Diniz
Prof. Dr. Eduardo de Lima Caldas
Profa. Dra. Mércia Kaline Freitas Alves
Dr. Vinícius Silva Alves
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal University of Amapá (UNIFAP), Maca AP Brazil. Professor of International Relations and the
Postgraduate Program in Border Studies (PPGEF).
2
Federal University of Amapá (UNIFAP), Macapá AP Brazil. Professor of Social Sciences and the
Postgraduate Program in Border Studies (PPGEF).
South America in the Bolsonaro´s government (2019-2022)
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023027, 2023. e-ISSN: 2236-0107
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ABSTRACT: The main objective of this article is to discuss the changes in the guidelines of
the Brazilian Foreign Policy during the government of Jair Bolsonaro (2019-2022) for South
America. The subcontinent was an important platform for the Brazilian Foreign Policy for two
decades after the end of the Cold War and the redemocratization of Brazil. Different strategies
had its geographic surroundings as a fundamental diplomatic basis and bi- and multilateral
actions strengthened South America as a geopolitical entity with a strong Brazilian role.
However, the Bolsonaro´s government was elected based on a discourse that sought substantive
changes in traditional national diplomacy, shifting existing relations in the subcontinent. Our
discussion will focus on Bolsonaro's foreign policy for South America and how the precepts
that underpin Bolsonarism reflected in the diplomatic deployment to the region. We will make
a brief recapitulation of the Brazilian Foreign Policy for South America since the 1990s. Then,
we will present the concepts and ideological bases of Bolsonarism, as well as its international
connection. Finally, we will discuss the diplomatic actions of the Bolsonarist period for the
geographic surroundings and their consequences for existing regional projects.
KEYWORDS: South America. Bolsonaro. Foreign policy.
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal a discussão sobre as mudanças de
diretrizes da Política Externa Brasileira (PEB) durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-
2022) para a América do Sul. O subcontinente foi durante duas décadas plataforma de ação
internacional da PEB após o fim da Guerra Fria e a redemocratização do Brasil. Estratégias
distintas tiveram o entorno geográfico como base diplomática fundamental e ações bi e
multilaterais fortaleceram a América do Sul como entidade geopolítica com forte protagonismo
brasileiro. Entretanto, o governo Bolsonaro se elegeu a partir de um discurso que buscava
mudanças substantivas na tradicional diplomacia nacional, deslocando as relações existentes
no subcontinente. Nossa discussão será focada na política externa de Bolsonaro para América
do Sul e de como os preceitos que alicerçam o bolsonarismo refletiram no deslocamento
diplomático para a região. Faremos uma breve recapitulação da PEB para a América do Sul
desde os anos 1990. Em seguida, apresentaremos os conceitos e base ideológicas do
bolsonarismo, assim como sua conexão internacional. Finalmente, discutiremos as ações
diplomáticas do período bolsonarista para o entorno geográfico e suas consequências para os
existentes projetos regionais existentes.
PALAVRAS-CHAVE: América do Sul. Bolsonaro. Política externa.
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA and Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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RESUMEN: El objetivo principal de este artículo es discutir los cambios en las directrices de
la Política Exterior brasileña durante el gobierno de Jair Bolsonaro (2019-2022) para América
del Sur. El subcontinente fue una plataforma importante para la Política Exterior brasileña
durante dos décadas después del final de la Guerra Fría y la redemocratización de Brasil.
Diferentes estrategias tuvieron los alrededores geográfica como base diplomática fundamental
y acciones bilaterales y multilaterales fortalecieron a América del Sur como una entidad
geopolítica con un fuerte papel brasileño. Sin embargo, el gobierno de Bolsonaro fue elegido
con base en un discurso que buscaba cambios sustantivos en la diplomacia nacional
tradicional, modificando las relaciones existentes en el subcontinente. Nuestra discusión se
centrará en la política exterior de Bolsonaro para América del Sur y cómo los preceptos que
sustentan el bolsonarismo se reflejaron en el despliegue diplomático en la región. Haremos una
breve recapitulación de la Política Exterior de Brasil para América del Sur desde la década de
1990. Luego, presentaremos los conceptos y bases ideológicas del bolsonarismo, así como su
conexión internacional. Finalmente, discutiremos las acciones diplomáticas del período
bolsonarista para el entorno geográfico y sus consecuencias para los proyectos regionales
existentes.
PALABRAS CLAVE: América del Sur. Bolsonaro. Política exterior.
Introduction
South America in Brazilian Foreign Policy (BFP) has become a priority since the
beginning of the 2000s. The First Meeting of South American Presidents in Brasilia was a
milestone in this process. The end of Fernando Henrique Cardoso's second presidential term
(1995-2002) and Luís Inácio Lula da Silva's administration (2003-2010) marked the
subcontinent as a strategic focus for Brazil's international projection.
However, the government of Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) meant a substantive
change from the point of view of domestic and international politics. His election represented
the rise of new politically and ideologically organized social groups known as the "new right".
A worldview that sought to deconstruct policies established over the last two decades since
Brazil's re-democratization. In the wake of these deconstructions, substantive changes in
traditional national diplomacy were made operational, displacing South America as the strategic
platform of the BFP.
The Bolsonaro administration's diplomatic dissonance with a foreign policy previously
established for two decades on the subcontinent is the focus of our analysis. We will briefly
recap the BFP for South America since the 1990s. We will then present the concepts and
ideological basis of Bolsonarism and the new right in order to better understand the conceptual
South America in the Bolsonaro´s government (2019-2022)
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framework that gives rise to the changes in the BFP. Finally, we will point out some diplomatic
actions of the Bolsonaro period towards the geographical environment and their consequences
for existing regional projects.
South America in Brazilian foreign policy (FHC, Lula, Dilma, Temer)
Brazil is the largest country in the South American subcontinent. Its population,
economy, military strength, science and technology place it in a comparative position of
prominence in South America. A renowned diplomacy that has its origins in the Baron of Rio
Branco has strengthened its role in regional international relations.
Since its re-democratization and the end of the Cold War in the 1990s, the Brazilian
government has sought to play a leading role through its financing capacity via national banks,
through the execution of projects via Brazilian companies and through its bi- and multilateral
diplomatic action. The influence of Brazil as a state actor and of private Brazilian actors differs
from that of the countries around it.
During the administrations of Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) and Luís Inácio
Lula da Silva (2003-2010), South America became a platform for international action. The First
Meeting of South American Presidents in Brasilia in 2000, promoted by the Brazilian Foreign
Ministry during Cardoso's administration, represented the start of a new relationship between
the country and the subcontinent and established a milestone in South American regional
relations by launching important projects such as IIRSA.
Brazil's foreign policy strategies under the governments of Fernando Henrique Cardoso
(FHC) and Lula da Silva (Lula) differed and continued. FHC, following on from his
predecessors Fernando Collor de Mello and Itamar Franco, sought dialogue with the world,
with international organizations (UN, WTO), with regional initiatives (Mercosur) and
hemispheric initiatives (FTAA) in a strategy called "autonomy through integration"
(VIGEVANI; OLIVEIRA, 2004, p. 34).
Lula's strategy was "autonomy through diversification", which consisted of contributing
to a greater international balance by seeking to mitigate the unilateralism of the post-9/11 world;
strengthening bilateral and multilateral relations in order to increase the country's weight in
international political and economic negotiations; strengthening diplomatic relations in order to
take advantage of the possibilities for greater economic, financial, technological and cultural
exchange; and avoiding agreements that could jeopardize development in the long term.
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Regarding the differences and similarities between the two governments, Vigevani and
Cepaluni (2007) point out that the Lula period did not deviate from the historically established
principle for Brazilian diplomacy that foreign policy is an instrument for economic
development, which seeks to maintain and expand Brazil's autonomy on the international stage.
We would point out that there have been changes in ideas and strategies for dealing with the
country's problems and objectives posed by its position, history and destiny, but these changes
are not essentially different between the two governments (p. 322).
For FHC, regional integration was central to the Brazilian agenda, as it had been since
the mid-1980s. With him, the process of regional integration was seen as an instrument with
which Brazil could compete for a larger space in the world. For Lula, Mercosur remained an
important project to be expanded with the South American Community of Nations (Sacn), later
transformed into the Union of South American Nations (Unasur). The projects that make up
IIRSA gained momentum under Lula through Brazilian banks, companies and diplomatic
action, making the integration of South America a priority on Brazil's agenda.
This Brazilian agenda, which aimed to strengthen the regionalization of South America,
had some elements that helped bring the countries closer together. For example, after a decade
of neoliberal governments, the countries were taken over by a wave of left-wing governments
in the region - which seems to demonstrate an attitude of skepticism about liberal globalization
that reproduced the inequalities between North and South.
In addition, the convergence of thoughts among the region's leaders on the formulation
of the integrationist project, not limiting it to "economic and commercial issues, broadening its
scope to political, social and security aspects; a greater consolidation of the idea of South
America in the foreign policy of the countries of the subcontinent, which presents a greater
political, economic and security unity than the idea of Latin America" are important factors in
strengthening the regionalization of South America (CERVO, 2008, p. 163, our translation).
This set of regional initiatives saw intense participation from Brazil and it is precisely
this intensity that would mark the distinction between the Lula period and its predecessor. The
direct involvement of the president and his top bureaucrats in this process was strong. Lula used
the resource of presidential diplomacy more frequently than his predecessor, in other words, he
participated personally in international relations, whether through pronouncements,
participation in international forums, or acting directly in negotiations and becoming the main
driver of foreign policy. The main destination of Lula's trips was South America.
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The role of senior bureaucrats in South America in the regionalization process also stood
out, especially with Chancellor Celso Amorim - Foreign Minister throughout the Lula
administration and Minister of Defence under Dilma Rousseff - Minister of Defence Nelson
Jobim (2007-2011) and the President's special advisor for international affairs Marco Aurélio
Gracia. In 2008, Jobim visited all the countries in the region with two objectives: the
construction of a regional defense identity and the creation of a South American war industry.
This dynamic in Brazilian foreign policy sought to promote the consolidation of the
subcontinent as a transnational political entity with a minimum unity and an institutional
framework based on common principles and macro-objectives in international relations.
Regarding this entity, Wanderley Messias da Costa states that
Considering the basic characteristics of its initial format and its current
development, this model of regional arrangement is the only project on this
scale that seeks to reproduce in its general aspects the European experience,
in which the main ambition of its member states has always been to combine
maximum economic integration with a transnational political-institutional
macro-concert. In this sense, it differs greatly from the conventional model
that has been adopted by most of the other regional blocs, in which the limits
of consultation between their member states are defined in advance and the
objectives are explicitly limited to economic and commercial matters. This is
why, subject to the respective and obvious particularities of these two current
experiences, South American integration here tends to reproduce the path
followed by the European Union to date, in which the broadest strategic
horizon that its creators have in mind is the constitution and consolidation of
a vast and ingenious transnational regional system of governance (COSTA,
2009, our translation).
However, the construction of South America as a Brazilian strategic project in the first
decade of the 21st century came up against fragmentations in the subcontinent that jeopardized
the development of the project. For Amado Cervo:
If there is a political South America, made up for the most part of left-wing
governments that have created an environment favorable to strengthening the
pole of power, there are two economic South Americas, one liberal and
primary, which seeks a free trade agreement with the United States, the other
industrial and developmental, which focuses on deepening integration
between the neighbors (CERVO, 2008, p. 203, our translation).
The role of a leader or leaders in consolidating a cohesive and unfragmented region is
fundamental in the regionalization process. While data naturally attributes Brazil a relevant role
in this process, for Jaime Preciado, Brazil's role in this context is that of a semi-periphery with
aspirations to become a global power. And its role as an active semi-periphery
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has not only been consolidated but has also increased its aspirations to position
itself as a global power. Brazil's size and geographical position have
consolidated it as a state of great strategic importance, as it has borders with
all the countries of South America, as well as the largest territorial extension
and population in Latin America, in addition to a gigantic coastline on the
Atlantic, with preferential zones, key to trade and the exploitation of off-shore
resources (PRECIADO, 2008, p. 262, our translation).
However, Brazil's role as an active semi-periphery does not necessarily give it a leading
position in the region, an issue that is unclear in the history of Brazilian foreign policy. During
the FHC period, it was believed that leadership was not proclaimed, but had to be exercised. In
this sense, the issue was not given much prominence during his administration. In the Lula
period, on the other hand, the issue was not ostentatiously raised in the Brazilian political
debate. The desire to play a leading role in the region and among developing countries was
introduced and there has been a greater demand from South American countries for Brazil
(VIGEVANI; CEPALUNI, 2007).
The demand from the countries of the region is not necessarily directed at one leader
alone, but at Brazil's role as paymaster - the role of the country or countries that absorb the costs
of integration and promote the construction of the collective public goods necessary for the
success of an integration process. This role has been played by France and Germany in the
construction, consolidation and maintenance of the European Union and in South America
Brazil would be the country capable of constituting itself as paymaster.
In the article Bounded by the reality of trade: practical limits to a South American region
(2005), Sean Burges defends the thesis that regionalism in South America has emerged as a
project without a leader willing to play the role of paymaster. However, it serves the interest of
the country that could exercise it: Brazil. When the author tries to answer the question of what
exactly is driving the regional impulse in South America, his answer - which took into account
the expansion of trade in the region, the nature of investments and the progress of infrastructure
integration - is that there is an emphasis on the energy sector, with Petrobras' activities pointing
to a strategy of guaranteeing the necessary supplies of oil and gas to fuel Brazil's economy.
Even with the growth of manufacturing trade across the region, it is energy demand together
with Brazilian leadership ambitions that are the drivers of regionalism, not cooperative
economic growth. For Burges:
a region will not fully integrate if it does not offer returns of a sufficient
magnitude to incite political pressure for deepening from economic and civil
society actors. With these theoretical guides in mind the relevant point
becomes one of what is not happening in South America to bolster
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regionalism. Integrated production chains are not forming. Investment
remains in resource- and market-seeking mode. Intra-continental
transportation and trade facilitation linkages are modernising very slowly
(BURGES, 2005, p. 450).
Finally, the author concludes that:
the economic potential of a South American region lacks the attraction
necessary to elicit support for an enthusiastic pursuit of the project. Indeed,
the unilateral nature of the benefits arising from the elements of the regional
vision enacted to date are bringing the political future of the Project into
question as the other South American states become increasingly dissatisfied
with a largely Brazilian-led venture that offers few immediate benefits and
may herald a future of dependence on an emergent regional Brazilian
hegemony (BURGES, 2005, p. 450).
Dilma Rousseff's government (2011-2016) was marked by strong international and
especially domestic turbulence. An institutional crisis and an impeachment process ended the
period. The decline in the prices of mining and agricultural commodities, which are strong
Brazilian products, and a management of public accounts that was highly questioned internally
drained much of the strength of Rousseff's government, directly reflecting on her foreign policy
in general.
The BFP's strategy during this period was substantially the same as that of Lula da
Silva's previous government. However, in addition to the crises already mentioned, we can
attribute part of the decline in Brazilian international action to the profile of the president, who
was less familiar with the international arena than her successor.
Regarding this decline, Cervo and Lessa (2014, p. 149, our translation) point out that
"after a phase of the country's rise as an emerging power, Brazil's international insertion went
into decline between 2011 and 2014". Our geographical surroundings were no different.
Initiatives and regional prominence have been curtailed and the expectations created in the
region about Brazil's role as a driving force behind regional integration and crisis resolution
have been dashed (SARAIVA, 2016).
Neither did her successor Michel Temer change the scenario of Brazil's declining action
in the region. On the contrary, consumed by the internal crisis of an impeachment process
questioned internally and externally, Temer has sought to distance himself from any Workers'
Party project, including action in South America.
The appointment of José Serra to the Ministry of Foreign Affairs is symbolic of this
search for distance. The deconstruction of the Lula era in the BFP, seen as partisan and
ideologized, was a project of the Ministry of Foreign Affairs in the Temer government.
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The supposed "de-ideologization" of the BFP was outlined in the ten guidelines that
Serra announced in his inauguration speech. The then minister believed that
Diplomacy will once again transparently and uncompromisingly reflect the
legitimate values of Brazilian society and the interests of its economy, at the
service of Brazil as a whole and no longer the convenience and ideological
preferences of a political party and its allies abroad
3
(our translation)
More important than the MFA's actions in the Temer period for South America, even
because they were of little significance, we should highlight the political contours that the
Brazilian executive has taken on. The construction of the BFP during the Lula period has been
negated as a project, especially by Temer's successor, Jair Messias Bolsonaro.
Bolsonaro and bolsonarism
The election of Jair Bolsonaro to the Presidency of the Republic in 2018 needs to be
understood from two perspectives: on the one hand, as the high point of the crisis of the social
pact built during the process of re-democratization in Brazil (SILVA, 2021a) - the corollary of
which was, according to Sallum (2004), the structuring of the New Republic, starting in 1994;
and, on the other, as the institutional outlet of the political, ideological and organizational rise
of new social groups in Brazil: the new right (SILVA, 2021b).
Two brief conceptual definitions are necessary here: firstly, despite the polysemy of the
concepts of right and left - as well as the repeated attempts (epistemological and political) to
obsolete this dichotomy, in defense of the existence of a post-ideological world (an assertion
that had a lot of force throughout the 1990s, in the wake of English New Labour and the
theoretical influence of Giddens' work) - here we assume the definition provided by Bobbio
(2011), according to which what separates right and left is the greater or lesser acceptance of
inequality as the natural order of the world; In other words, the further to the right, the more
inequalities (in their various dimensions) would be accepted as natural, and the further to the
left, the more they would be accepted as socially and politically constructed.
The second definition concerns the novelty presented by the so-called new right -
represented by the new social movements, parties and political leaders that have emerged in
Brazil in the wake of the crisis of the New Republic, especially since the window of opportunity
represented by the June 2013 protests. Beyond the conjunctural element, the combination of
3
More at: http://www.funag.gov.br/ipri/images/repertorio/diretrizes-governo-Temer-Ministro-Serra.pdf
South America in the Bolsonaro´s government (2019-2022)
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five distinctive characteristics allows this myriad of political expressions (monarchists,
anarcho-capitalists, ultra-liberals, militarists, Christian fundamentalists, masculinists, etc. ) is,
on the one hand, agglutinated under a single sign and, on the other, constitutes a new
phenomenon in the Brazilian social fabric: a metapolitical framework, that is, the understanding
of the cultural arena as a privileged locus of political dispute and its hegemony in it an ex ante
condition for the dispute of institutional spaces; anti-intellectualism, understood both as the
open and frontal rejection of the traditional instances of production, legitimation and
reproduction of regimes of truth - notably, universities, research centers and schools -; anti-
elitism, politically translated as the ethical, aesthetic and epistemological valorization of the
average citizen and common sense as an instrument for apprehending reality; the
instrumentalization of politically incorrect discourse as a weapon of anti-system rhetoric; and
the synthesis between economic liberalism and moral conservatism, brought together by the
elevation of the patriarchal family to the position of ordering category of the social world
(SILVA, 2021a).
The first decades of the 21st century have seen, in much of the world, the political and
ideological rise of new groups openly identified with a reinvented right (CARAPANÃ, 2018;
PINHEIRO-MACHADO, 2019; ROCHA, 2018), and with a strong connection to a profound
rearrangement resulting from the structural crisis of capitalism in its neoliberal matrix since
2008. The crisis of hegemony of neoliberal sociability - and, by extension, of the institutions
and values associated with it - is the backdrop for the constitution of the new contemporary
right (FRASER, 2018; PINHEIRO-MACHADO, 2019; SILVA, 2021a).
In the case of Brazil, these new right-wing groups - which began to organize in the mid-
2000s (ROCHA, 2018) - found in the 2018 ticket led by then congressman Jair Bolsonaro, the
institutional outlet of a long process of ideological dispute within civil society. According to
Rocha (2018), these groups began to organize politically in Brazil during the height of Lulism,
although they were first structured as a counter-public, given the hegemony in the public sphere
of what Burity (2018) calls a model of subjectivation based on the idea of tolerance, and with
strong support from liberal pluralism (SILVA, 2021a). As the national political debate was
structured around a centre-left government, led by the Workers' Party, and an opposition
hegemonized by a center-right that did not even openly acknowledge its links to the right - the
ashamed right (POWER, 2000) - led by the Brazilian Social Democracy Party, there was no
room in the public sphere for the dissemination of more radicalized opinions on the right. The
relative consensus around a more inclusive lexicon, together with the general acceptance of
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA and Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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democracy as a non-negotiable value, became a structuring ideological component of the New
Republic in Brazil (SILVA, 2021a).
As a result of this veto on right-wing radicalism in the public sphere, individuals
ideologically identified with the far-right found an environment on the internet to first recognize
their "equals" and then form a more or less cohesive group through discussion groups, social
networks and internet forums anchored in radicalized agendas and debauched language (DI
CARLO; KAMRADT, 2018; ROCHA, 2018). Although, from then on, they were able to
recognize their collective condition in virtual environments - embodied by the sharing of
ultraconservative (albeit diffuse) values and ideas - they lacked a crucial element to make the
transition from a "group in itself" to a "group for itself": a more organized political and
ideological instrument. If the virtual environment gave these individuals the opportunity to
recognize themselves as a group with shared values, contact with the thought of the ideologue
Olavo de Carvalho provided them with political language (ROCHA, 2021).
Carvalho's importance in the process of establishing the new Brazilian right - first as a
counter-public and then as a central political actor - is fundamentally due to two factors: firstly,
because - even if he was not responsible for politically organizing the camp, he was able to
translate the anguish of important portions of the Brazilian population into an effective
argument (with his debauched, ironic and aggressive verve), giving explanatory body to
resentment, and thus enabling the rooting of an ideology built on the synthesis between moral
conservatism and defense of the free market (ROCHA, 2018; TEITELBAUM, 2020); and,
secondly, due to the recognition by leading figures in the country's liberal and conservative
camps of its role in building spaces in the public sphere that are more receptive to conservative
agendas - previously "blocked" by the imperative of "political correctness" (BERLANZA,
2017). Given his ability to give the groups that make up the new Brazilian right a minimum
degree of homogeneity and awareness of their own role, Olavo de Carvalho is their main
organic intellectual (SILVA, 2021b).
The hard core of the Olavist worldview - which, by extension, to a large extent structures
the worldview of the new Brazilian right - can be summarized in the following arguments:
supported by the traditionalist school (TEITELBAUM, 2020, SILVA, 2021b), Olavo de
Carvalho takes a very critical stance towards the knowledge produced in universities - both
from an epistemological and political point of view. From an epistemological point of view,
because he maintains that the only way to access knowledge (which is universal and
transcendent) is through individual and introspective reflection, which has in mythological
South America in the Bolsonaro´s government (2019-2022)
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intermediation (in this case, Christianity) the inescapable bridge to access the logos - whose
evidence can be grasped through common sense (CARVALHO, 1999). From a political point
of view, because he argues that - as a strategy derived from the defeat of the armed resistance
to the military dictatorship - the Brazilian left would have gradually built up a firm hegemony
in all the instances that produce culture in the country (universities, research centers, the press
and even cinema) (CARVALHO, 1994; 1998; 1999; SILVA, 2021b). This is where another
crucial component of Olavista rhetoric comes in: conspiracy. The argument is based on the
premise that there is a major conspiracy underway, which is why the search for knowledge
could only be effective if it shared - as in the ontological principle of revelation - this same
premise as its founding myth: since the founding of the Communist Party of Brazil in 1922,
there has been an uninterrupted conspiracy in the country aimed at destroying the pillars of
Western civilization through the destruction of capitalism (ROCHA, 2021).
The rhetoric of conspiracy, moreover, is not circumstantial in his work, but structural:
taking up arguments from Guénon, Lasch and Voegelin (the latter in particular), Carvalho
identifies a conspiracy of great proportions that has existed throughout much of history, whose
origins could be traced back to Epicurus' own classical materialism:
Conspiracism occupies a privileged position in Carvalho's work: the entire
march of modernity could be summarized as a conspiracy of secular elites
seeking to supplant the explanatory and normative centrality of religion - this
is, in fact, the great theme of his book "O Jardim das Aflições" (The Garden
of Afflictions). Western civilization - conceived as the heir to the Judeo-
Christian tradition and centred on the traditional family and conventional sex
(PINHEIRO-MACHADO, 2019) - would have found in Christianity the most
elaborate symbolic construction of both a transcendent universal truth and the
necessary intermediation (pontifex) for access to it in the figure of Christ
himself: the logos made flesh - a thesis borrowed from Voegelin (1992).
However, with the advent of modernity, and especially after the transformation
impulses of the Renaissance and the Enlightenment, new elites emerged with
the declared aim of establishing a materialist "civil theology" that would
supplant Christian ontology and therefore establish the primacy of cultural
relativism and absolute historicism, eroding the traditional foundations and
values of Western civilization. In this sense, the communists would be the
contemporary spearhead of a process that has its origins in the influence of the
materialist philosophy of Epicurus - for Marxism, as for Epicureanism, there
is no possibility of objective truth, and therefore theory serves no purpose
other than to rhetorically stimulate practical action (SILVA, 2021b, p. 8, our
translation).
The Olavist worldview can be summarized in the following logical concatenation:
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA and Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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1. The left would be axiomatically mistaken for two reasons: on the one hand, because
by focusing its efforts of reflection on becoming, instead of observing the imperative of past
experience, it would lose analytical capacity; and, on the other hand, because it would actively
refrain from explaining the world as it is in order - in a demiurgic delirium - to shape it according
to its will;
2. The strategy mobilized by the left to shape the world according to its wishes would
be to destroy all the cultural heritage accumulated by Western civilization and crystallized in
common sense through its hegemonic status within the culture-producing spheres (universities,
research centers, the press, cinema, etc.);
3. In this process, it would be essential to destroy Metaphysics and Religion (given their
attachment to the conception of a "universal truth"), and establish relativistic materialism as the
new "civil theology";
4. Therefore, if the left dominates the production of culture in the traditional instances
of production, reproduction and legitimization of regimes of truth, and uses it as an instrument
of political struggle with the aim of destroying Western civilization, it would be essential for
the right to fight for new regimes of truth produced in spaces other than universities - especially
social networks.
If, on the one hand, the embryonic organization of the new right took place in the virtual
environment, and as a counter-public, their political and electoral rise must be understood in
the context of another process of vast magnitude in Brazil: the demise of the New Republic
(SILVA, 2021a). Although these groups took advantage of the window of opportunity provided
by the social effervescence of the massive protests of 2013 - when, for example, the MBL, Vem
Pra Rua, Revoltados Online and a myriad of other social movements of the new right were
created - their rise to the center of the Brazilian political dispute is a symptom of the crisis of
hegemony of the social pact built on the back of re-democratization (SILVA, 2021a).
Bolsonaro's foreign policy for South America
The history of Brazilian foreign policy and diplomacy has consolidated a tradition and
government bureaucratic structure that is internationally recognized for its competence and
professionalism. The different foreign policy strategies of different governments have not
structurally affected the Ministry of Foreign Affairs. In this sense, the Bolsonaro government
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has shaken the foundation of Brazil's international presence. Naming and identifying a coherent
political strategy in the period is a substantive intellectual challenge in the face of uncoordinated
or chaotic movements.
In the article "Bolsonaro e a reorientação da política exterior brasileira" (Bolsonaro and
the reorientation of Brazilian foreign policy) (2019)
4
, Vidigal points out that Bolsonaro's BFP
represented an abdication of the traditions of autonomy and development of Brazilian
diplomacy. According to the author, among other elements we can see a predominance of the
strength of economic liberalism in one of its shallower versions and alignment without
reciprocity (with the United States) as the hallmarks of Bolsonaro's BFP.
Saraiva and Silva's (2019)
5
analysis sought to understand two important variables in
foreign policy: ideology and pragmatism. For the authors, looking only at Bolsonaro's first year
in office,
we have seen the different impacts of ideology and pragmatism on the
Bolsonaro government's foreign policy so far. Its defenders can be
summarized, in the case of the ideologues, in the group called olavist
(influenced by the writer Olavo de Carvalho), whose main representative in
foreign policy would be Chancellor Ernesto Araújo, supported by Eduardo
Bolsonaro. Among the pragmatists, the military and domestic groups that
would suffer directly from the practical consequences of actions driven purely
by ideology, such as sectors of agriculture. Its main representative has been
Vice President Hamilton Mourão (p. 130, our translation).
Paulo Roberto de Almeida - diplomat, academic and traditional critic of "Lulopetista"
diplomacy - presents a collection of writings on Bolsonaro's BFP and points to the "demolition"
of Brazilian diplomacy
6
. Almeida (2022)
7
points out that
Candidate Bolsonaro's government program already officially announced in
August 2018 that he would make a small revolution in foreign policy and
diplomacy, even if its wording was as schizophrenic as possible. The
announced break with all the standards and guidelines of previous foreign
policies and diplomacies was so explicit that its basic lines contained in the
document delivered to the Superior Electoral Court (2018, p. 79) - probably
made by complete amateurs in international affairs (p. 53, our translation)
4
See VIDIGAL, C. E. Bolsonaro e a reorientação da política exterior brasileira. Meridiano 47 (UNB), v. 20, p. 1-
16, 2019.
5
See SARAIVA, M. G.; SILVA, A. V. C. Ideologia e pragmatismo na política externa de Jair Bolsonaro. Relações
Internacionais (Lisboa), v. 64, p. 117-137, 2019.
6
See ALMEIDA, P. R. Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira. 1. ed. Curitiba:
Appris, 2021. v. 1. 291p.
7
See ALMEIDA, P. R. Rupturas e continuidades na política externa brasileira, 1985-2023: vicissitudes da
diplomacia no Brasil. CEBRI revista, v. 1, p. 40-55, 2022.
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA and Ivan Henrique de Mattos e SILVA
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Finally, we would like to highlight the work by Monica Hirst and Tadeu Morato Macie
8
,
"A Política Externa do Brasil nos tempos do governo Bolsonaro" (Brazil's Foreign Policy
during the Bolsonaro administration) (2022). The research analyzed three pillars on which
Bolsonaro's BFP was based. These are: ideological political core, liberal-conservative economic
policy and the security and defense complex. These pillars led Brazil's external action from a
regional and international point of view.
The authors point out that from an international point of view, the pillars of Bolsonaro's
BFP can be summarized as follows (s/p):
Political ideological core: Anti-globalist activism, alignment with the Trump administration
and rapprochement with the circle of countries with extreme right-wing regimes;
Liberal-conservative economic policy: Attracting international investment, reconfiguring
Brazil's presence in the international economy and preserving economic ties with China;
Security and Defense Complex: Strengthening the relationship with the USA (Southern
Command), recognition as an extra-NATO ally, military and security cooperation with like-
minded governments - such as Israel, the United Arab Emirates and India..
To Hirst and Macie (2022):
The combination of latent denialism and isolationism strengthens the anti-
regionalist profile of Bolsonaro's foreign policy. Brazilian diplomacy has
produced a policy of "bad neighbourliness", in which it gives up soft power
variables and imposes a dissuasive presence that is accompanied by economic
ties with low institutionalization and a political dialogue of monosyllables,
with no pretensions of occupying spaces in multilateral institutions at regional
and/or global level. At the same time, by defending an unconditional
alignment with the Trump administration's international positions (including
publicly positioning itself in favor of the Republican candidate's re-election in
the 2020 elections), the Bolsonaro administration has installed the centrality
of the link with the United States in Brazilian Foreign Policy (n/p, our
translation).
Bolsonaro's possible logic or strategy in diplomacy has extended to South America. In
fact, it is possible to observe an intensified effort to seek a "revolution in foreign policy and
diplomacy", given that the last two decades have seen strong Brazilian regional action by
previous governments. The pillars of Bolsonaro's BFP - analyzed by Hirst and Macie and
mentioned above - are evident in South America.
8
Text presented at the seminar “Gobernanza democrática y regionalismo en América Latina ¿en crisis o
recomposición?”, at the Colegio de Mexico in February 2020. Available:
https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/download/4771/9230/9673. Access: Mar. 2023.
South America in the Bolsonaro´s government (2019-2022)
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The "ideological political nucleus" had its core in the relationship with Venezuela.
"Brazil is going to turn into Venezuela" was a Bolsonaro campaign motto during the 2018
election process. The "meme" sought engagement not only by referring to the country's
economic situation. The "communist threat" was also a fundamental basis for looking at the
neighboring country and, especially, the Workers' Party
9
.
Since Hugo Chavez's rise to power (1999-2013), the rapprochement between Brazil and
Venezuela has intensified. These partnerships have resulted in Venezuela's inclusion in
MERCOSUR (2012), the defeat of the United States' plan to create the Free Trade Area of the
Americas (2005) and a positive trade windfall for Brazil of more than US$4 billion. These
actions may be the result of ideological rapprochement, but they have strong pragmatic results.
The fall in the price of the oil barrel and Venezuela's consequent economic decline was
compounded by a political crisis that Chavez's successor, Nicolas Maduro, is still trying to deal
with today. An intense migratory process towards Brazil, more specifically towards the state of
Roraima, supported Bolsonaro's arguments for breaking Brazil's relations with the neighboring
country during the Bolsonaro administration.
Gilberto Maringoni points out that
Jair Bolsonaro has chosen Venezuela as an enemy country in South America.
Throughout his first year, he has sought to isolate and attack the Maduro
government in international forums, faithfully allying himself with the US
State Department. The result is a loss of regional credibility for Brazilian
diplomacy (p. 173, our translation)
10
Another move by Bolsonaro to deconstruct the existing legacy of the BFP for South
America was Brazil's rapprochement with Chile, more precisely Bolsonaro's rapprochement
with Sebastián Piñera. Chile was Bolsonaro's first international travel destination in South
America precisely because of the ideological alignment between the presidents.
This rapprochement with conservative South American leaders was strengthened with
the participation of the recently created Forum for the Progress of South America (PROSUR).
This Forum set out to renew and strengthen the integration process of South American
nations. An initiative of Chile and Colombia that was joined by Brazil, Ecuador, Argentina,
9
See. CHAGAS, V.; MODESTO, M.; MAGALHAES, D. O Brasil vai virar Venezuela: medo, memes e
enquadramentos emocionais no WhatsApp pró-Bolsonaro. ESFERAS, p. 1, 2019.
10
See MARINGONI, G. Venezuela, o novo espantalho. In: Gilberto Maringoni; Giorgio Romano Schutte, Tatiana
Berringer. (Org.). As bases da política externa bolsonarista: relações internacionais em um mundo em
transformação. 1ed.Santo André: Editora da Universidade Federal do ABC, 2021, v. 1, p. 173-182.
Paulo Gustavo Pellegrino CORREA and Ivan Henrique de Mattos e SILVA
Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp. 3, e023027, 2023. e-ISSN: 2236-0107
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Peru and Paraguay in 2019, a period that saw the rise of the right wing in the governments of
these countries. An obvious regional attempt to undermine UNASUR.
In relation to the "Security and Defence Complex", three BFP movements stand out: the
military rapprochement with the United States, Brazil's withdrawal from the Union of South
American Nations (UNASUR) and the securitization of Venezuelan migration to Brazil.
These movements are representative in that they cohere and synthesize the regional BFP.
The relationship with the US has historically had a pendulum relationship with the regional
relationship, i.e. a rapprochement with the superpower to the detriment of the relationship with
its geographical surroundings. The weakening of UNASUR, an intergovernmental organization
built on a Brazilian initiative, weakens regional multilateralism. The reception of Venezuelan
migrants in Brazil by the military evokes the relationship established with Venezuela and what
it represented in the Bolsonaro government.
Hirst and Macie (2022) point out that:
At the regional level, the prospect of South American cooperation in the field
of defense has been completely abandoned, making Brazil's involvement in the
UNASUR Defense Council a dead letter. On the other hand, there is an attempt
to align with US perspectives on security issues in Latin America, with a greater
degree of permissibility for the presence of US military personnel in the region.
South America's northern neighbourhood has become a space for improving a
dissuasive military presence, articulated with defensive perceptions of
governments, organizations and movements identified as political-ideological
threats. There has been a growing militarization of the Amazon region, both
because of the crisis with Venezuela and the resulting migratory processes, as
well as in relation to fighting fires in the region during 2019. This dynamic has
led to a strengthening of the border agenda, associated with the securitization
of humanitarian aid, which in 2018 led to the setting up of Operation Acolhida
in the state of Roraima (HIRST; MACIEL, 2019, n.p., our translation).
The liberal-conservative amalgam deserves special attention, especially as it represents
the hard core of the ideological framework of the new right (CHALOUB; PERLATTO, 2015;
ROCHA, 2018; SILVA, 2021b). Despite the apparent contradiction between two traditions of
Western political thought that, in fact, were born antagonistic, there is a deep affinity of meaning
between neoliberalism and neoconservatism (BROWN, 2019; NETTO et al., 2019; SILVA,
2021b), made possible by three movements: the deconstruction - throughout the 19th and 20th
centuries - of three foundational pillars of liberalism (the Republic as the normative horizon of
modernity, contractualism and jusnaturalism) (SILVA, 2021b); the acceptance, on the part of
the conservative tradition, of economic modernity (i.e. the market economy) (BROWN, 2019);
South America in the Bolsonaro´s government (2019-2022)
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and the common identification of the patriarchal family as the ordering category of modern
social reproduction (NETTO et al., 2019).
Considering that liberalism, as a philosophical field (and ideological expression par
excellence of the bourgeoisie in its revolutionary phase), was born as an insurgent counterpoint
to the absolutist state and the oligarchic monopoly of land ownership, anchored in the tripod of
individualism, jusnaturalism and contractualism (BOBBIO, 2017), and organized from an
essentially egalitarian ethos (KERSTENETSKY, 2005; DARDOT; LAVAL, 2016), and, in turn,
that conservatism was born as a direct reaction to the bourgeois revolutions (whose main and
most emblematic expression was the French Revolution), especially in terms of its egalitarian
substratum (MIGUEL, 2002), it is clear that any association between these areas would only be
possible through ideological falsification or a tactical conjunctural alliance. However, the
liberal-conservative amalgam is a fundamental part of the ideological framework of the new
right, in general, and Bolsonaro, more specifically (NETTO et al., 2019).
In order to understand this structural association, it is necessary to understand the
profound process of ontological restructuring that liberalism went through between the 18th
and 20th centuries, from which its hegemonic expressions were stripped of any egalitarian bias
and, to the limit, also of its jusnaturalist/contractualist nature (SILVA, 2021b): if Schumpeter's
blunt criticism (both of the classical debate on democracy and of his distributist contemporaries,
from Keynes to Hobhouse and Dewey) largely sealed the abandonment of the notion of the
Republic (in the Rousseaunian sense) as the normative horizon of modernity in the liberal key
(MIGUEL, 2002), the Chicago and Austrian schools were the main culprits in the abandonment
of contractualism (i. e., popular sovereignty as the exclusive legitimization of power) (SILVA,
2021b).
From a concrete point of view, the liberal and conservative agendas made up the hard
core of Bolsonaro's political agenda, including his foreign policy - from the imperative decision
to try to get Brazil into the OECD to Brazil's adherence to the so-called Geneva Consensus
(signed in October 2020) - an association of countries that, in the wake of the advance of the
new right-wing globally, endorsed the approval of a document that defends a strong setback in
the women's reproductive rights agenda, supporting the criminalization of abortion under any
circumstances.
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Final considerations
A solid diplomatic experience since the Baron of Rio Branco has shaped Itamaraty's
technical and political expertise in building a consistent foreign policy. Different strategies have
marked Brazil's rapprochement with different poles of power and different interests at
international level. Latin America has been a strategic region in the BFP of some governments.
Over the last two decades, South America has become a pillar of Brazil's international
projection, spanning different government periods.
The election of Bolsonaro in 2018 and the worldview of the social groups represented
by Bolsonarism was a substantive hiatus in Brazil's relationship with the rest of the world, and
especially with South America. The search for a revolution in foreign policy and diplomacy in
the four years of the Bolsonaro government has led to rifts with traditional partners and the
abandonment of a regionalist policy.
The conception of the world that underpins Bolsonarism, as we have pointed out, is
based on anti-intellectualism, anti-elitism, the use of politically incorrect discourse as a weapon
for anti-system rhetoric and the synthesis between economic liberalism and moral
conservatism. However, another element that ideologically supports political discourse and
action in the international sphere is conspiracism.
As we have pointed out, Bolsonaro's argumentative starting point is based on the
premise that there is a major conspiracy underway, orchestrated by the left and operationalized
through globalism. A global leftist strategy capable of shaping the world in such a way as to
destroy the cultural heritage of Western civilization. A cultural domination by the global left in
the production, reproduction and legitimization of regimes of truth.
In the conspiracist view, the fight against globalism needs new regimes that originate
from the dissolution of the legacy of the global left. A South America, constituted and
consolidated in a transnational regional system of governance, stemming from a progressive
wave in the subcontinent, represents a major threat in Bolsonaro's conspiracist worldview.
The hollowing out of regional institutions such as UNASUR, the dissolution of relations
established with traditional partners such as Venezuela and the enthusiasm for PROSUR are
some of the actions of the Bolsonaro period in the quest to deconstruct a legacy stemming from
globalism.
The change of power in South America over the last two years has pointed to a new
progressive moment in the domestic and international politics of some countries. The center-
South America in the Bolsonaro´s government (2019-2022)
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left has made a comeback in countries like Brazil, Argentina, Chile and Colombia. A scenario
still to be studied in terms of the regionalization process.
REFERENCES
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CRediT Author Statement
Acknowledgements: Do not apply.
Funding: This research has received financial support from the Pró-Defesa Project
(CAPES).
Conflict of interest: Do not apply.
Ethical approval: Do not apply.
Availability of data and material: Do not apply.
Authors contribution: Do not apply.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.